quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Autotransformação


A autotransformação, o realizar-se a si mesmo (individuação) não é o mesmo que tornar-se consciente. O processo de fortalecimento do "eu" para a ampliação da consciência leva a um mero egocentrismo enquanto a individuação compreende infinitamente mais do que apenas o "eu". A autotransformação é a assimilação de conteúdos inconscientes e não exclui o mundo, pelo contrário, o engloba. Ao nos tornamos conscientes do conteúdo do inconsciente, geralmente irrompe um violento conflito entre a "visão diurna e visão noturna" das coisas. É um processo de tomada de consciência, de uma vivência e de uma experiência que envolve a pessoa toda através de um intenso sofrimento e que é definida por Jung como uma "passio" (paixão) da alma e não como "morbus animi" (doença da alma) que a qualificaria como uma patologia. A dor da autotransformação não é o "tudo é dor" definida por alguns filósofos.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

"Individuação"



O homem desde a concepção vai construindo através dos sentidos o seu universo, a sua consciência, a sua persona (ou "ego ideal" - Jung). A formação da persona dá-se de acordo com os valores da tradição, da cultura e da religião transmitidos pela família, pelo grupo social e pela educação formal. A persona é formada pelo aprendizado e é, portanto, uma máscara construída para adaptar-se às diversas situações do universo em que ela vive. O centro de gravidade do "eu" está localizado nessa estrutura, dominada pelos valores coletivos, pela fé e pela razão, chamada por Freud de superego (ego no esoterismo).

Características desta personalidade:

1. A natureza determinada e dirigida dos conteúdos da consciência.

2. O comportamento, sentimentos e pensamentos são, em grande parte,controlados por impulsos inconscientes e pelas tradições coletivas.

3. A vida é movida pela energia da vontade, a vontade de poder. O caminho da vontade se dá através de conflitos, lutas e violência.

4. O seu mundo é dual, fragmentado: certo e errado, bom e mau, belo e feio,Deus e o Diabo. A vida é baseada em escolhas. A mente absolve ou condena,justifica e compara.

5. Têm muitas certezas e poucas dúvidas, baseadas no conhecimento intelectual, no raciocínio e na lógica, que podem ser muito desenvolvidos.

6. Em geral têm uma profunda aversão em conhecer alguma coisa a mais sobre si mesmos.

7. Vivem num mundo de expectativas, emoções, idéias, hábitos, passado e futuro.


Esta é a humanidade que nós conhecemos.

A evolução, o desenvolvimento ou ampliação da consciência é promovida pelo instinto e manifesta-se como um desejo de liberdade. São aquelas forças profundas, naturais, involuntárias e inconscientes (id - Freud) que se manifestam e que vão promover a mudança do centro de gravidade do "eu" do superego para o instinto. O superego (ego) é colocado numa posição secundária. É o processo de individuação, de autotransformação do ser dual, masculino e feminino, consciente e inconsciente, em um todo. Representa o nascimento de um novo homem com um nível de consciência diferente.

Características do novo homem:

1. A vida é movida pelo amor, harmonia e liberdade.

2. O relacionamento com o Universo que o cerca se dá através da intuição e do sentimento. Afinal o sentimento une, sintetiza e o liberta dos condicionamentos psicológicos do mundo dual.

3. Consegue superar a visão dual e fragmentada e passa a ter a percepção, a compreensão do todo, do conjunto.

4. Vive segundo o princípio de que tudo tem o seu tempo e cada coisa a sua hora.

5. Nas relações pessoais é tolerante, não julga e não têm preconceitos.

6. Vive o aqui, o agora e a não-escolha; tem dúvidas e poucas certezas, se não transcendeu-as. Está aberto ao novo porque sabe que as certezas de hoje podem estar superadas amanhã.

7. Não é movido pela fé mas sim pelo saber.

Devemos observar que a autotransformação, o realizar-se a si mesmo(individuação) não é apenas um processo de ampliação da consciência. Este pode ser promovido pelo fortalecimento do superego (ego) que leva a um mero egocentrismo enquanto a individuação compreende infinitamente mais. A autotransformação não exclui o mundo, pelo contrário, o engloba. É um processo de tomada de consciência, de uma vivência e de uma experiência que envolve a pessoa toda.O novo homem está desvinculado de todos os valores coletivos, ele é ele mesmo, solitário. Ele basta a si mesmo. É um indivíduo absolutamente diferente de qualquer outro ser humano porque o seu nível de consciência está além do mundo dual em que vive muitos outros.

sábado, 1 de agosto de 2009

Tempo e Espaço


Encontro-me em plena solidão, numa praia deserta. O mundo, os seus rostos e as suas coisas, tudo está longínquo. Os seus rumores, problemas e paixões não chegam a este silêncio imenso. Porque o céu, a planície, o mar, são infinitos, também os pensamentos se fazem infinitos. Aqui tudo é tão simples e grande que parece acabado de sair das mãos de Deus. A laboriosa cisão do dualismo, a luta entre contrários de que é feita a vida, procura pacificar-se para se desvanecer na suprema unificação de todas as coisas em Deus. Aqui existo fora do limite do espaço e do tempo, porque no céu, na planície,no mar, não tenho pontos de referência, e os dias correm iguais, sem medida. Sinto-me fora das dimensões terrestres. De nada serve caminhar, porque o deserto é sempre igual, sob o mesmo céu, diante do mesmo mar. O movimento se relaciona com o limite. No espaço e no tempo infinitos a velocidade nada modifica, anula-se no vazio. Devido a falta de um ponto de referência, não havendo ponto de partida ou de chegada, toda a velocidade é inútil. Mesmo o correr do tempo nada muda, porque espaço e tempo não faltam. Acima de todos estes infinitos - o do céu, do deserto, do mar, do tempo - o infinito de Deus os contempla, imóvel, assistindo à sua fusão no infinito. Esta é uma atmosfera diferente que respiro, um outro ambiente em que penetro, outra dimensão em que existo. Superei o limite do plano físico, a barreira da forma, da ilusão, das aparências. Sou apenas um pensamento que observa o pensamento que se encontra em tudo o que existe. Uma força me arrastou para fora das dimensões terrestres, na vibrante imutabilidade do absoluto.

(Pietro Ubaldi)