sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Livre-Arbítrio


É comum ouvirmos a afirmação de que o ser humano possui livre arbítrio. Isto significa que ele pode decidir de forma livre e fazer a escolha que julgar melhor para si mesmo.
Mas será que é mesmo assim?
O termo arbítrio, é derivado de arbitrar, que significa decidir com a própria consciência.
Ora, quando em nossa vida surge um evento em que devemos optar entre duas ou mais opções, é quando deveríamos utilizar esta suposta capacidade que temos, que se convencionou chamar de "Livre Arbítrio".
Qualquer evento no Universo pode ser dividido em dois tipos:
- Eventos aleatórios: São aqueles eventos que não podemos prever e que seguem apenas as chamadas leis de probabilidade.
Por exemplo: jogar uma moeda.
- Eventos regidos por leis: São aqueles eventos que ocorrem apenas devido a uma série de fatores que o desencadeiam, seguindo regras, que são previsíveis.
Por exemplo a evaporação da água destilada a 100ºC ao nível do mar, é um evento que acontece regido por regras nítidas e que não ocorrerá jamais em temperatura abaixo ou acima de 100ºC.
Dentre estes eventos existem alguns que mesmo que saibamos que sejam regidos por leis, não podemos fazer uma previsão com grande margem de acerto, como as modificações do clima. Mas apesar disto estes eventos também são regidos por regras e não são aleatórios.
Ora a qual tipo de evento pertence as decisões que tomamos quando dizemos que estamos usando o livre arbítrio?
Certamente nos eventos do primeiro tipo (eventos aleatórios), não poderemos colocar as decisões do livre arbítrio. Pois isto equivaleria a afirmarmos que nossas decisões são tão imprevisíveis quanto a face que cairá para cima quando jogamos uma moeda. Isto significa que se colocassemos 1000 pessoas numa situação em que eles deveriam decidir se apertam ou não o gatilho de um revólver que esta apontado para a cabeça do melhor amigo deles, teríamos um total médio de 500 tiros e quinhentas pessoas mortas. Sabemos que na prática isto não ocorreria, portanto as decisões do livre arbítrio não são decisões aleatórias.
Por exclusão, então resta o segundo tipo de evento: As decisões tomadas por livre arbítrio são eventos regidos por leis.
Sabemos que para decidirmos, usamos nossa consciência, ou seja, nossos valores, pensamentos e conhecimentos adquiridos; nossas reflexões e memórias. Todas estas capacidades porém, são produto do condicionamento que tivemos no passado, de nossas experiências e aprendizado. Assim para decidirmos sobre algo, usamos determinadas capacidades que estão totalmente vinculadas ao passado.
Portanto nossa decisão não é na verdade livre; mas é o resultado de uma avaliação baseada em dados que temos acumulados na memória. Assim a decisão não é livre, mas sim, dependente do nosso condicionamento anterior.
Estes condicionamentos são as regras que determinam nossas decisões, o fato de não podermos prever com grande margem de acerto qual decisão um ser humano irá tomar, não significa que a decisão tomada será totalmente livre e independente, assim como o fato de que não podemos prever o clima com grande margem de acerto não significa que o clima independa de regras que o determinem. Desta forma quando decidimos por uma opção, na verdade não fazemos uma decisão livre, porém sim, uma decisão baseada em memórias anteriores que nos levaram a optar por determinado caminho.
Na verdade decidimos a partir de hábitos e desejos anteriores (conscientes ou inconscientes) e não através de uma suposta "liberdade para decidir".
Faça você agora esta experiência:
Decida mexer qualquer parte de seu corpo e faça isto agora. A maioria das pessoas acredita que pode decidir mexer a parte do corpo que quiser, e com liberdade. Mas não é bem assim. Reflita um pouco. Você na verdade mexeu uma parte de seu corpo apenas porque eu sugeri e, portanto, sua ação não foi livre mas foi uma ação induzida por minha proposta.
Você pode dizer: Certo, mas eu mexi a parte do corpo que eu quis, livremente. Mas uma vez você se engana. Por exemplo, certamente você não decidiu mover a musculatura do períneo (região entre os genitais e o ânus). Por que? Porque esta área é uma região do corpo que habitualmente não decidimos mover voluntariamente, por não fazer parte de nossos hábitos e condicionamentos prévios.
Qualquer movimento que tenha realizado, teve como causa, hábitos anteriormente armazenados na memória e portanto não foi um movimento livre. Isto é valido para qualquer pensamento, emoção ou sentimento que você tiver. Todos eles são condicionados e só aparecem devido a uma série de experiências que você teve no passado, nunca surgem porque você escolhe livremente.
Até mesmo se você decidiu não realizar esta experiência, tal decisão foi tomada baseada em avaliações armazenadas em sua memória, e portanto também foi uma decisão condicionada.
Bem, mas apesar de ter lido minhas afirmações acima, você pode não concordar comigo e continuar acreditando que você tem livre arbítrio. Ok., é realmente bem provável que isto aconteça. Mas pare um pouco e pense: Porque você continua acreditando que tem livre arbítrio? Certamente porque em um determinado momento de sua vida, baseado em suas experiências, leituras, raciocínio e desejos, você chegou a conclusão que tem livre arbítrio. Portanto o próprio fato de você discordar do que eu afirmei acima, comprova que sua avaliação é sempre baseada em experiências passadas e portanto não é na verdade livre, mas condicionada!
O que comprova o fato de que não temos "livre arbítrio", não porque eu tenha dito isto, mas porque é assim.
(By Celso)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Observador


Inicialmente, quero esclarecer que Liberdade e Amor são palavras que tem um significado próprio para mim.
Amor e Liberdade são "estados de espírito" que estão além do mundo dual.
O Amor está além do egoísmo, do altruísmo ou da paixão. Amor é o sentimento de doação incondicional.
Liberdade é o sentimento de desapego. Ser livre é ser puro, natural e inocente. Na Liberdade não há escolhas porque ela está na percepção do Todo.
Existem "camadas" na nossa existência: "físico","mental" e "consciencia".
A camada do mundo físico é objetiva; os sentidos transmitem tudo o que está em sua volta - os olhos vêem, os ouvidos ouvem, as mãos tocam. O mundo objetivo é comum a todos.
A segunda camada, em seu interior, é a mente: Pensamentos, emoções e sentimentos. O corpo é conhecido pelos outros, a mente não. Os pensamentos são privados, não são comuns.
A camada externa cria a ciência, a camada dos pensamentos e sentimentos cria a filosofia e a poesia. Será que somos somente matéria e mente?
Observamos que na mente existe um fluxo de pensamentos. Essa mente cria o mundo do observador, aquele que observa os pensamentos e os objetos, com todo seu "fundo" ou conteúdo adquirido através de experiencias, vivencias, gostos pessoais, dissabores, alegrias, conceitos e tais...
Mas....será esse observador único ? Independente do que pensa ?
Ao olhar para uma casa com os olhos abertos ou fechados, o observador é o mesmo; se está olhando para a raiva ou o amor, se está triste ou alegre, se a vida se transformou em poesia ou pesadelo, isso não faz nenhuma diferença -aquele que olha permanece o mesmo com seu conteúdo interno.
Esse "centro", essa "testemunha" é a consciência que contém em si a raiva, o amor, desejo, suas imagens interiores.
Os pensamentos são um caos, e a luta para afastá-los somente cria mais pensamentos.
Saímos deste círculo vicioso, ao iniciarmos um processo de observação sem luta, sem esforço, um deixar fluir...
Então, de repente, o"eu" (a consciência) observa que é todo esse conteúdo. Os pensamentos são esse "eu" . Esta é a conscientização do que se é.
Seu segredo é: Atenção.
Quando perceber isso, ele não julga, avalia ou condena, utilizando-se de todo seu "fundo" : apenas percebe... Ele não é um juiz. Assim começa a ter a percepção do todo.
Atenção e auto-observação são o segredo da ampliação da consciência. Assim consegue-se ver além das aparências e identificar as causas e os efeitos que permeiam a realidade.
Esta experiência é possível nos momentos em que somos nós mesmos, assumimos o tal conteúdo de nosso "fundo"- aquele que cria diversos conflitos, exterior e interiormente.
Percebe-se, desse modo, a origem da violencia e da confusão. Começa, então, o término de tais conflitos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Vida Estudantil


Vida estudantil e suas Contradições
Um questionamento sobre os valores da educação moderna ( Escrito por Gavin Gee-Clough )

Sempre ingênuo, o estudante descarta a possibilidade de se ligar ao mundo de forma diferente da análise compulsiva que lhe foi ensinada. Conseqüentemente se torna mais e mais distante de seus verdadeiros dons e desejos.
É raro um estudante que conhece a si mesmo. Geralmente ele não sabe o que quer, mas o que pensa que quer (o que normalmente é o que ele acha que os outros querem). Esta é a base do pragmatismo de carreira, que se baseia no que o estudante se força a fazer para alcançar alguma recompensa.
Você diz, honestamente, que quer ser rico e poderoso; mas isto todo mundo quer, porque são instintos básicos que garantem sobrevivência - é a biologia. Mas biologia e sociedade atuando isoladamente sobre nós, sem séria reflexão, nos torna homogêneos e automáticos.
"Este mundo, monstro de energia, sem começo e sem fim, bem como sem aumento ou receita, revelando nada ! Este mundo é desejo de poder e nada alem". (Jim Morrison )

A ciência pode ser libertadora, mas da mesma forma: se atuar isoladamente arruína o progresso do ser humano. Para que a ciência estabeleça-se corretamente, ela precisa de arte.
A formulação das hipóteses científicas é completamente criativa e intuitiva; logo é arte. Em outras palavras, se ciência não estiver baseada na arte, ela não funciona.
Aplicada nos estudantes, esta lei decorre da seguinte maneira: separado de si mesmo depois de anos de vida acadêmica, o estudante desconhece arte, pois arte é o universo de si mesmo, de seu self; logo se a razão precisa de uma base intuitiva, o estudante não conseguirá raciocinar sozinho.
Razão torna-se um instrumento que justifica o status quo, ao invés de ser uma forma de modifica-lo.
E é o que está acontecendo. Estudantes deveriam ser o primeiro passo para a transformação do status quo, mas os sistemas educacionais de todo o planeta estão fazendo exatamente o contrário.
Vivemos num mundo onde educação é uma forma de manutenção da mediocridade global, e é por isso que ela está se perpetuando com tanta facilidade.
"No seu primeiro dia de aula você é cortado da vida para elaborar teorias a respeito dela" (Taisen Deshimaru, Mestre Zen )

A vida é a continua exploração da relação que existe entre o indivíduo e o planeta. A educação institucional inverte este processo. Nosso sistema de educação aliena progressivamente o indivíduo de si mesmo.
A escola se inicia como um jogo de aventuras, mas isto é só um truque para ganhar confiança. A criatividade e a curiosidade rapidamente desaparecem diante da exigência de obediência, imitação e do espírito competitivo. Quando a criança chega ao segundo grau a educação já atingiu essa meta.
Obediência e imitação não exigem nada de original da criança, ou seja, nada originado pelo seu self, por ela mesma. Por definição, dela é exigido exatamente o oposto: a dócil apropriação das idéias e comportamentos de outros. A atmosfera quase penal das salas de aula reitera o primeiro princípio escolar: submissão e coesão. Educação é como o status permanece quo.
A gradual desconsideração da opinião da criança sobre o que é melhor para ela é a retirada de sua individualidade. Quanto mais tempo ela fica exposta às instituições de ensino maior se torna essa separação. Escolas e universidades despejam no mundo seres humanos automáticos, apáticos... mas perfeitos para fazer a engrenagem do sistema funcionar.
Conservadorismo e estreiteza de visão são as logomarcas do estudante, o medíocre expoente da Razão. O relacionamento do estudante com o conhecimento racional é baseado na fé - a universidade como Templo da Razão, onde se valorizam especialistas e títulos de doutorados.