quarta-feira, 15 de junho de 2011

Autoconhecimento

O autoconhecimento surge quando observamos nosso relacionamento com pessoas, com idéias, com a natureza;
Vem quando observamos o comportamento do outro, os gestos, a maneira de se vestir, como fala, seu desprezo ou bajulação e a nossa resposta a tudo isso;
Surge quando observamos tudo em nós mesmo, sobre nós, nossas reações e a maneira como nos enxergamos no espelho da relações.
Não é antes, nem depois. É estar atento a tudo.
O "Eu" não consegue fazer uma reflexão sobre sí  mesmo , sob pena em criar o "Eu ideal", mas sim somente através do  outro, sejam ideias, pessoas, natureza,  ele se compreende.

Autoconhecimento é no mesmo instante da relação. 

domingo, 12 de junho de 2011

Auto-vigilância

Uma das coisas que mais distorcemos na vida é o fato, o acontecimento. Carregamos o fato com diversas maneiras em ve-lo e dificilmentte percebemos isso. Estando todos nós carregados de informações, opiniões, de desejos e crenças, de emoções, tantas coisas dentro de nós que dificilmente nos relacionamos com o fato ou com uma outra pessoa sem gerar confusões, porque damos tremendo valor ao nosso modo de ver o fato, ao nosso ponto de vista quanto ao fato , onde inclusive os nossos "achismos" acreditamos até muito mais importante que o fato, e sempre existirão diversos outros "achismos" proximos ou na maioria das vezes diferentes do nosso. Enquanto nos relacionarmos com o fato desse modo confuso, desatento, não conseguiremos compreender toda essa agitação e o sofrimento decorrentes disso, e que sempre produzirá conflitos com outros pontos de vista.
Assim, o problema então resume-se em como conviver com essa agitação, entendê-la, sem procurar justificativas, escapes ou fugas e sofrimentos, pois nessa convivencia requer-se muita auto-vigilância de cada pensamento e sentimento, que é observado sem qualquer tipo de avaliação correta ou incorreta, mas sim apenas o observar. Temos que aprender a ver e a ouvir calmamente , pois em tal procedimento tão simples, nossos "achismos" perdem completamente o valor elevado que dávamos antes, porque justamente não estão mais carregados de emoções , opiniões e outros, e consequencia disso, estaremos nos aprofundando muito mais em nós mesmos ,por conta dessa auto-vigilância.
Procedendo dessa maneira, nessa observação, nessa auto-vigilância, logo percebemos que não haverá a contradição geradora de conflitos e sofrimentos em nós. A consequencia disso é uma compreensão imediata , como produto de um estado de atenção que impede confusões.
Não mais produziremos o posterior sofrimento fruto da autocompaixão, onde eliminaremos inclusive a ansiedade, o medo e o sentimento de culpa.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Asas da Liberdade


Os que o amor não dotou com asas, não podem voar para além das nuvens e ver aquele mundo mágico que minha alma e a alma de "Selma" percorreram naquela hora.
O homem, embora nasça livre, permanecerá escravo das leis desumanas legadas por seus antepassados, pois o destino, que imaginamos um segredo superior, nada mais é do que a aberração de submetermos nosso dia de hoje aos decretos de nosso ontem, e o dia de amanhã aos decretos de hoje.
O amor é a única liberdade nesse mundo, porque eleva a alma a alturas além das leis e tradições dos homens e das necessidades e imposições da natureza.

KHALIL GIBRAN
Do livro: Asas Partidas

Relacionamento


Para que uma relação duradoura e construtiva exista, não deve haver dominação em nenhuma das partes. O domínio vem quando há incompreensão interior, refletida na forma de ciumes ou insegurança.
Quando um homem ou mulher falam de direitos e deveres no relacionamento, esses tomam o lugar do amor, porque tais coisas deveriam automaticamente surgir em cada um espontaneamente, nunca como alguma regra imposta a outro. Cada um saberá seu lugar na relação , onde uma ou outra caracteristica existirá de um modo natural, nunca na forma de cobranças.
Ora, em uma relação verdadeira, completa, real entre o homem e a mulher, há uma tremenda comunhão, onde implica grande significação. Nesse "estado" não existe isolamento , mas sim amor, e nunca direitos e deveres , muito menos ciumes e dominação.
Um homem ou mulher que amam, não falam sobre responsabilidades, direitos, deveres ou obrigações, porque em uma tremenda relação existe o verdadeiro amor, onde partilham cada um seu respectivo "mundo interior", além das alegrias, tristezas, e também o dinheiro.
O homem ou a mulher que amam não são ciumentos, porque na verdadeira comunhão não existe a dominação, confundida muitas vezes com uma relação onde impera o ciumes, como forma da falta de segurança quanto a outra pessoa.
Na comunhão total não se exige segurança, porque faz-se parte da outra pessoa, e nunca uma oposição na forma de domínio, da possessividade.
Nesse amor, que é incondicional, indentidades se fundem e se fundem mundos de cada ser. Mas para isso ocorrer, deve-se cada um conhecer-se a sí mesmo (autoconhecimento) , que é um processo profundo onde a mente paraliza-se e recebe as reais impressões na forma de compreensão profunda , onde defeitos são apresentados e transformados nas virtudes da boa relação - e nessa virtude surge o amor.
É esse conhecimento de sí mesmo (autoconhecimento) onde está o verdadeiro amar. É nesse processo de estar apto á comungar com o outro, que duas identidades separadas se fundem. Muito diferentemente da paixão, onde não há real interesse na comunhão, mas sim na simples satisfação de desejos, muitas vezes impulsionados por fugas.
Quando existe amor, não existe o problema do sexo como simples meio de satisfação e fuga, e para que isso seja percebido sem as dores e tristezas que a inconsciencia promove nas relações rapidas ou fúteis, é necessária uma tremenda busca junto a sí mesmo em seu interior, submetendo mente e coração , onde resultará em uma transformação.
O amor é casto ,puro, incorruptível, e quando existe amor, não existe o problema do sexo, mas sim o sexo tem uma significação completamente diferente.
Infelizmente poucos são os que realmente amam, onde as relações de matrimonio ou convivencia são inquebráveis, pois não representam nem hábito nem conveniencia, nem estão baseadas em necessidade puramente biológica, muito menos sexual. Não há isolamento entre casais, onde cada um não construiu um enorme muro de isolamento e auto-proteção ao outro.
Enquanto houver a incompreensão do que é o amor, a maioria dos homens e mulheres buscam preenchimento ou no trabalho ou em qualquer outra atividade, idéias ou em filhos ou familia, porque tais coisas assumem tremenda significação (uma fuga) muito superior ao que geralmente é.

O amor surge quando o "Eu" está ausente .

(Reflexões sobre textos de Krishnamurti)
(por favor, peço a leitura das postagens anteriores)

quinta-feira, 9 de junho de 2011

O Pensar e a Fuga - Ajude-se!


Entre o que gostaríamos que fossemos, e o que somos, o que estamos vivendo,  existe um tempo criado no pensamento.
Esse tempo chamamos de "tempo psicologico", que está dentro da gente, mas que difere do tempo cronológico, que é o tempo que é medido em uma viagem entre uma cidade a outra, por exemplo, ou quando marcamos certa hora para algum compromisso- o tempo cronologico escoa.
Esse pensar de um modo psicologico , não é prático, não é lógico, mas ligado sempre ao "vir-a-ser". Esse tempo está carregado de "vontades" em escapar da realidade, do fato. Esse pensamento nada mais é que o movimento dentro desse tempo entre o que é, e o que gostaria que fosse. Entre o ser e o vir-a-ser.
Produzido por sensações passadas e pelo desejo de repetí-las, cria-se um centro gerenciador das mesmas ( o ego ) na qual busca certezas ou repetições dessas seja pela via da satisfação ,ou do prazer, onde esse vir-a-ser está apoiado no campo das crenças, das  filosofias, sonhos, religiões, doutrinas e fantasias.
O pensamento é o tempo que existe nesse espaço, a "coisa que o percorre", entre o que se é, e o que se deseja ser.
Todo esse movimento dentro da psiqué impede ver o que é o fato. É isso que promove as fugas e escapes das dores interiores, em busca do prazer.
Tais movimentos sempre nos deixam sem conhecer as causas, porque é um costume assim viver.
Somos treinados desde crianças a assim pensarmos - seja na comparação, seja na competição . Criam-se assim, ideais dentro da mente. Ideais religiosos, doutrinários, filosoficos, humanos, divinos, morais e éticos.
O pensamento não sabe o que fazer com essas projeções, pois não é a realidade do agora, mas apenas ideais, como coisas projetadas no futuro. O pensador não sabe o que fazer com o fato, com o que é . Tenta controlar, modificar, fugir, evitar.
Ocorre que podemos frear esse modo de pensar, pois o mesmo produz as neuroses, os impedimentos e dissabores, além do medo e traumas, pois, evidente,criam *conflitos* dentro de nós - entre a realidade e a projeção do que se gostaria que fosse a realidade chamada "Ideal".
Podemos observar tudo isso ocorrendo, sem esse movimento rumo ao ideal, quando não nos dividimos entre o que somos e o que gostariamos que fossemos, pois essa divisão cria o conflito interior. Ou seja, somos a angustia, as dores e tristezas, que promovem nossas fugas em busca dos ideais. Não podemos fugir das mesmas. Nós somos tudo isso.
Somente quando PERCEBERMOS ESSE FATO ou tudo isso ocorrendo, sem julgamentos, haverá a paralização instantanea desse movimento do pensamento, onde as células cerebrais que desde a infancia estão sendo formatadas a pensarem do modo "vir-a-ser" , sofrerão uma transmutação, e uma tranquilidade mental reinará.

( Texto base:  Krishnamurti )

Rompimentos


Eternos movimentos da infelicidade em busca da felicidade.
Quantos problemas...quanta busca de tranquilidade !
Existe um padrão, repetitivo:
Vivenciamos; adquirimos Experiencia; transformamos em Conhecimento. Do Conhecimento para a Memorização; Memorização responde: é o Pensamento... e após isso, surge a Ação.
Esse Padrão condiciona o cérebro há milhares de anos. Mas não percebemos que nesse padrão, dificilmente resolveremos conflitos da ordem interior, psicológica, na psiqué, dentro de cada um de nós, onde o pensar (psicologico) não pode resolver seus próprios problemas psicologicos, pois o pensar psicológico esta carregado de angustias, medos, desejos e vontades, confusões , dores e tristezas - gerando nossos entraves..
O cérebro tem sua parte analitica: otimamente projetado para os problemas práticos, como a construção de uma máquina. Ele produz o pensar logico, da análise onde pode sim apontar razões do pensar psicologico.
Dentro dessa confusa esfera psicologica,os que podem procuram ajuda junto aos profissionais da psiqué. Psicologos, psicanalistas, terapeutas, porque se acham incapacitados em resolver tais problemas, e assim delegam a outros.
Mas sempre exigirá um certo tempo para que todo o processo de tomar consciencia de tais entraves, seja descoberto.
Há, porém, uma outra maneira em romper com todo esse processo , sózinho, consigo mesmo, bastando para isso observar, atentamente, sem julgamentos , e deixar o perceber aflorar - pois a percepção é instantanea, é o insight que rompe com os padrões da angustia aqui e alí, a transmutação do padrão do pensar psicologico , onde deixa-se de viver o " vir-a-ser " psicológico : fuga do fato, para o que desejaria que fosse o fato - onde gera-se mais e mais confusões.
Percebendo, rompe-se o padrão,e com ele esse tempo não se torna necessário, porque é instantaneo. Deixa-se de viver essa consciencia confusa, de buscas, dores e tristezas, de se achar diferente do restante da consciencia humana, mas que em nada diferimos : todos temos o mesmo padrão.
É dificil ? Existe sim a dificuldade, porque é necessário uma atenção muito grande e uma tranquilidade mental para que nossa mente não mais tagarele conosco mesmo, onde assim "permitimos" o insight aparecer.
Esse "treinamento" chama-se Autoconhecimento.
Permita-se alegria e felicidade,nascidas nesse rompimento, criando um estado de simplicidade.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Autoestima


Pergunta básica: que é autoestima??
Resposta básica: o valor que o Ego se dá aos olhos do outro.
Qual o seu valor? 
Muitos de nós não conseguimos responder essa simples pergunta acima, pois é no espelho das relações durante nossa vida que a resposta se apresenta. São "as  coisas  do  Ego ".
As relações podem ser tanto tempestuosas como afetuosas, onde podem ou não esconder ou aflorar a realidade de cada um de nós.
A questão, então, resume-se em olhar-se pra sí mesmo nas relações, como no espelho.
Esse olhar chama-se autoconhecimento, e é nele que refletimos algo. Esse algo será visto pelo outro que está relacionando contigo. É evidente que dependendo das coisas em que "vibramos" , será essas mesmas "vibrações" atraídas pelo outro. É por isso que cada um de nós atrai a mesma "vibração" a que estamos sujeitos, ou vivendo. A capacidade do outro, talvez  inconscientemente observar isso, é imensurável: sempre ocorre; e, talvez, esse seja um "mistério" da natureza da psiqué.
A autoestima surge desde a infancia, onde as relações com os pais e vivências posteriores, ditarão algum "grau" da atual autoestima, das coisas do Ego. Tais acontecimentos, que em um caso podem refletir baixo grau de autoestima, mostram algo traumatico onde o Ego não conseguiu compreender, aceitar e posteriormente transcender como consequencia dessa compreensão. Quanto maior a intensidade de uma criança sentir-se amada, maior ela se tornará segura quando adulta. Quanto mais compreensão dessas simples regras que surgem através do autoconhecimento, menos insegurança, menor descontrole emocional, menos confusões e dificuldades em sua vida e em seus relacionamentos.
Fato importante a se observar, a autoestima não é a aparencia externa, apesar que a mesma pode refletir uma pessoa muito vaidosa (que pode esconder o medo em ser julgada pelos outros) ,onde pode refletir tanto a baixa quanto a alta autoestima, assim como também em uma pessoa não vaidosa possa ou não se sentir segura, sem qualquer objeto ligado 'a vaidade.
Os sinais que podem mostrar  baixa autoestima ,dentre muitos, são a dependencia emocional, a necessidade em ser aceito ou aprovado ou agradar, o medo de errar ou o perfeccionismo, a ansiedade, a mentira, o sentimento em não ser capaz de realizar, a raiva,a inveja,o ciumes (ou insegurança), a possessividade, a manipulação, as confusões nos relacionamentos.
Observando-se no espelho das relações ,seja idéias, natureza ou pessoas, o Ego poderá se dar algum valor, e esse sempre será visto pelo outro que vibra na mesma intensidade, onde infelizmente e geralmente, também está inconsciente de tais "vibrações" . Essa mesma observação, evidente, deve ser feita sem a fuga que promove o medo, muito menos o orgulho.
A grande transformação que ocorre em  um Ego  , é quando compreender todo esse processo , e nenhuma busca, nenhuma importancia dar  'a autoestima ! Quando isso acontecer, nasce a verdadeira humildade, pois ambas, autoestima e humildade  são duas facetas separadas e talvez contraditórias aos olhos do Ego, porém, são  a mesma coisa!


terça-feira, 7 de junho de 2011

Sexo e Amor


Problemático quando torna-se um vício, ou quando se busca apenas para satisfação pura e simples,o sexo geralmente confunde-se com o Amor , gerando , evidentemente, conflitos, manipulações, desinteresses além do ato em sí.
Tal busca surge de um evidente estado de insatisfação, que gera a carência pela amarga realidade de algo que não vai bem no dia a dia, onde há o "preenchimento" de algo que está faltando, e esse algo é que faz o movimento em busca ao prazer, uma fuga real do Ego 'a dor.
Há os que não dão valor a nada além do ato em sí, assim como há os que o condicionam ao sentimento, a algo "mais nobre".
No "estado" que o sexo produz, experimenta-se uma completa ausência de si mesmo, experimentando a tão almejada felicidade, na libertação dos conflitos, problemas e confusões. Nesse "estado ausente" há apenas o presente, sem passado nem futuro, sem confusões, dores, tristezas e conflitos de especie alguma, seja consigo ou com outro, na qual observamos em todos os niveis das relações, pois, afinal, todo o esforço para se reforçar, para se "centrar" o 'Eu' religiosa, economica e socialmente, não se apresenta. E é esse reforço do "Eu" que gera a competição e violencia entre os seres humanos ,estejam conscientes ou (geralmente) inconscientes desse processo.
É a plena felicidade que surge na ausencia do "Eu" e seus conflitos, que de um modo inconsciente, pode estar sendo essa felicidade procurada quando do ato em sí, além do prazer .
Por isso, inconscientes dessa ação e reação de fuga 'a dor, deseja-se mais e mais.
O problema, então, não está no sexo em sí, mas sim como livrar-se dos conflitos que o "centro" produz.
Nessa ausencia do "Eu" é que se apresenta o Amor, a felicidade, a doação,a sensibilidade, o importar-se sem nada em troca, o querer elevar o outro, a comunhão verdadeira e tão rara entre um casal, onde inclusive o sexo torna-se algo completamente diferente em seu significado, e tudo isso não se pode condicionar a quaisquer fatores que o "Eu" tente dominar ou manipular .

(percepções sobre a vida e textos relativos 'a psiqué (k.))

domingo, 5 de junho de 2011

Amor


Já refletiste sobre o que é amor? É ele essa tortura que conhecemos? Essa espécie de amor poderá ser bela no começo - quando dizemos a alguém: “amo-te” - mas depressa se deteriora, convertendo-se numa relação em que prepondera a posse, o domínio, o ódio, o ciúme, a ansiedade, o medo.
Agora, que é amor, que é ele realmente, e não como gostaríamos que fosse?
O que gostaríamos que fosse o amor é uma mera idéia, um conceito. Devemos começar com o que é, e não com o que deveria ser. Devemos começar com o fato, e não com as opiniões e conclusões alheias.
Que é realmente o nosso amor? Nele há prazer, dor, ansiedade, ciúme, apego, ânsia de posse, de domínio, e o medo de perdermos o que possuímos. Há o amor existente nas relações entre duas pessoas, e há amor a uma idéia, uma fórmula, uma utopia, ou a Deus. O amor que temos é o conhecido, com todos os seus sofrimentos e sua confusão; nele, há a tortura do ciúme, os horrores e penas da violência, o prazer sexual, a possessividade, o ciumes, a desconfiança.
É isso que conhecemos.
Devemos perguntar: É o amor prazer, desejo, pensamento? Pode o amor ser continuamente cultivado? Sem o amor, o sentimento de compaixão, sua chama, inteligência, tem a vida muito pouco significado.
Você pode inventar um propósito para a vida, a perfeição, conhecer tudo sobre a profissão, mas sem a beleza fundamental do amor, fica a vida sem sentido. Para a maioria das pessoas, amor é posse. Mas, havendo ciúme, inveja, existirá também crueldade, ódio. O amor só existe e cresce na ausência do ódio, da inveja, da ambição, da possessividade. Sem amor, a vida é como terra estéril, árida, dura, brutal. Porém, no momento em que existe afeição, ela é como a terra que floresce com água, com chuva, com beleza.
Uma de nossas dificuldades é que associamos amor com prazer, com sexo. Amor, para a maioria de nós, significa ciúme, ansiedade, possessividade, apego. A isso chamamos amor. Mas o amor é apego? É o amor prazer? O amor é desejo? É o amor o oposto do ódio? Se é oposto do ódio, então não há amor. Você pode compreender isso? Quando alguém tenta se tornar corajoso, esta coragem é nascida do medo. Portanto, o amor não pode conter o seu oposto. O amor existe onde não há ciúme, agressividade, ódio. Todos nós possuímos capacidade para um amor profundo e abrangente, porém, pelo conflito e pelas falsas relações, pela sensação e pelo hábito, destruímos sua beleza. Não podemos manter a chama artificialmente acesa, mas podemos despertar a inteligência, o amor, pelo constante discernimento das múltiplas ilusões e limitações que presentemente dominam a nossa mente-coração, todo o nosso ser.
O amor não é sentimentalidade, não é emocionalismo, nem devoção. É um “estado de ser” lúcido, são, racional, incorrupto, do qual procede a ação total, a única que pode dar a verdadeira solução a todos os nossos problemas.Se ficardes vigilante, vereis o papel importante que o pensamento representa na vida.
O pensamento tem, naturalmente, seu devido lugar, mas não está em nenhum aspecto relacionado com o amor. O amor é um estado de ser em que não existe pensamento; a própria definição do amor é um processo do pensamento, e assim, não é amor.
Será que realmente conhecemos aquele “estado de ser” extraordinariamente vivo e lúcido, que é o amor ?
A maioria de nós tem muito pouco amor no coração. Por não termos amor, encontramos em geral um meio de aliviar-nos, seguindo uma certa via de “autopreenchimento”, que pode ser sexual, sentimental, apaixonante, intelectual, ou de ordem neurótica; de maneira que nossos problemas crescem e se tornam mais e mais agudos.
O amor não é coisa da mente, e não se pode pensar no amor. O amor só pode existir quando ausente o pensamento do “eu”, e o libertar-nos do “eu” só se consegue pelo autoconhecimento.
Vereis, então, que o amor nada tem que ver com os sentidos, e que ele não é um meio de preenchimento. O amor só pode existir depois de extinta a atividade do “eu”. Vós, porém, chamais essa atividade do “eu” positiva;mas a mesma leva à destruição, à separação, à aflição, à confusão, E, todavia, todos nós falamos de cooperação, de fraternidade, quando basicamente, o que desejamos é ficar apegados às nossas atividades egocêntricas.

Você ama alguém? Este amor contém ciúme posse, dominação, apego?
Então não é amor! É apenas uma forma de prazer, entretenimento, preenchimento!
Quando há sofrimento, não pode haver amor e, portanto, nenhuma inteligência. O amor tem sua própria inteligência.
Só o amor pode transformar o mundo. Sistema algum pode trazer a paz e a felicidade. O amor não é um ideal; ele surge onde existe a compaixão de todos para com todos. Esse modo de ser se apresenta com a riqueza da compreensão.



(J. Krishnamurti)

sábado, 4 de junho de 2011

Crime e Castigo (e a linguagem poético-mística...)


"Muitas vezes vos ouvi falar daquele que comete um crime como se não fosse um de vós mas um intruso no vosso mundo.
Mas digo-vos que, tal como os santos e os justos não se podem erguer mais alto do que o mais alto que existe em cada um de vós, também os maus e os fracos não podem cair mais baixo do que o mais baixo que existe em vós. E tal como uma simples folha só amarelece em conjunto com toda a árvore, Também aquele que comete um crime não o pode fazer sem a anuência secreta de todos vós.
Como numa procissão, caminhais juntos em direção ao vosso eu interior. Vós sois o caminho e o caminhante e quando um de vós cai, cai por aqueles que vêm atrás, para os avisar da pedra que encontraram no caminho. E cai por aqueles que vão à sua frente, que, embora mais rápidos e seguros, não estão livres de tropeçarem na mesma pedra.
E notai que, embora a palavra vos pese no coração:
O assassinado não está isento de responsabilidade pelo seu próprio assassínio, e o roubado não está isento de culpas por o ter sido. O justo não está inocente dos feitos do malvado, e o que tem as mãos limpas não está limpo dos atos do culpado. Sim, o culpado é por vezes vítima do ofendido.
E ainda mais vezes é o portador do fardo dos inocentes e retos. Não podeis separar o justo do injusto e o bom do mau;
Pois eles andam juntos ante a luz do sol, tal como juntos são tecidos os fios brancos e negros;
E quando o fio negro quebra, o tecelão examina todo o tecido e também todo o tear.
Aquele que quiser flagelar o ofensor olhe para o espírito do ofendido. E se algum dá vós punir em nome do que é justo e cortar com o machado a árvore do mal, deixe então que se vejam as raízes;
E encontrará as raízes do bom e do mau, do que dá frutos e do que não dá , entrelaçadas no coração silencioso da terra. E vós, juizes, que quereis ser justos, que condenação ireis dar àquele que, embora honesto de corpo, é um ladrão de espírito? Que castigo ireis dar àquele que flagela a carne e também flagela o espírito? Como procedereis com aquele que nos seus atos é falso e opressor, mas que, no entanto, é também enganado e oprimido? E como ireis punir aqueles cujos remorsos são maiores do que os crimes que cometeram? Não será o remorso a justiça que é administrada pela própria lei que quereis servir?
No entanto, não podereis impor o remorso ao inocente, nem arrancá-lo do coração do culpado. Subitamente, à noite, ele convocará os homens para que olhem para si próprios. E vós, que deveis entender a justiça, como o podereis fazer a menos que olheis para os fatos à plena luz?
Só assim sabereis que o ereto e o caído são um único homem no crepúsculo entre a noite da sua pequenez e o dia da sua espiritualidade, e que a pedra mãe do templo não é mais alta que a mais funda pedra dos seus alicerces."

(trecho do livro O Profeta,de Gibran Khalil Gibran)
- Gibran, no alto de uma profunda compreensão, nos fornece em forma poética e mística, a necessidade em nos vermos como agentes das ações e reações , onde normalmente procedemos de forma inconsciente. Quem dispõe de coragem suficiente em olhar-se?

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Imagem



Enquanto alguém tiver uma imagem de si próprio, ficará magoado. Essa é uma das infelicidades na vida; O que é isso que se sente ofendido? É a imagem de si mesmo, que cada um há construído. Se a pessoa estivesse totalmente livre de imagens, não seria afetado nem pelas ofensas nem pela adulação. Agora quase todos encontram segurança na imagem que hão construído de si mesmos, que é a imagem criada pelo pensamento. De modo que, observando isso, perguntamo-nos se essa imagem, construída desde a infância, pode terminar completamente. Porque só então poderemos ter algum tipo de relação com os outros. Na relação, quando não há imagem, não há conflito.
Ao inquirir desse modo, como temos de reconhecer as confusões, as contradições, o movimento total da consciência? Temos de reconhecê-lo pouco a pouco? Tomem, por exemplo, o estigma psicológico que cada ser humano experimenta desde a infância. Ele é ferido psicologicamente pelos pais, depois na escola, na universidade, por causa da comparação, da competência, que ele tem que ser superior aos outros. Durante toda a vida, existe esse constante processo de ser reprimido. Sabemos disto, que todos os seres humanos se acham profundamente recalcados, ainda que possam não ser conscientes disso e que, por causa dessas marcas psicológicas, surgem todas as formas de ação neurótica. Tudo isso é parte da consciência de cada um de nós; a parte oculta e a parte que se revela.
Pois bem, seria possível nunca ficarmos ofendidos? Porque, em conseqüência dessas marcas psicológicas, construímos um muro ao redor de nós mesmos e nos afastamos de nossa relação com os demais, para que não voltem a nos reprimir. E nisso há temor e um paulatino isolamento. Perguntamo-nos, pois: seria possível não só ficarmos livres dos estigmas passados, mas também jamais nos ferirmos de novo? - porém não mediante a insensibilidade, a indiferença ou o descuido de nossas relações.
Deve o indivíduo investigar por que se sente complexado e que é sentir-se magoado. Essas marcas psicológicas fazem parte da consciência de cada um de nós, e delas emanam diversas ações neuróticas e contraditórias. Não é algo que está fora de nós, senão que é parte de nós mesmos.
Essas imagens são a essência do “si mesmo”; quando ele diz que se sente magoado, quer dizer que as imagens estão ofendidas. Se tem uma imagem de si mesmo, e vem outro e diz: “Não seja néscio!”, fica ele magoado. A imagem própria que há fabricado é o “eu”, e essa imagem fica recalcada. Carrega-se essa imagem e essa ferida psicológica pelo resto da vida. As conseqüências de nos sentirmos magoados são muito complexas. Seria, então, possível não se ter nenhuma imagem de si mesmo? Por que tem ele uma imagem de si próprio? Pode um indivíduo ter boa aparência, ser brilhante, inteligente, perspicaz, e um outro deseja ser como ele, e, se não é, se sente magoado. A comparação pode ser um dos fatores que contribuem para que fiquemos psicologicamente recalcados.
Existe, pois, uma maneira de encarar o fato sem que intervenha um só motivo? Ou seja, você não tem um motivo, e pode ser que a outra pessoa, sim, tenha um motivo. Então, se você não tem motivo, como está olhando o fato? O fato não é diferente de você, você é o fato. Você é a ambição, é o ódio, é a inveja, é a cobiça, é o desespero. Há uma observação do fato que é você mesmo, na qual não intervém nenhuma explicação, nenhum motivo. É isso possível? Porém, quando você vê o absurdo de uma acepção semelhante, então está obrigado a ver que todo esse tormento é você mesmo; o inimigo é você, não a outra pessoa.
À lembrança de experiências, a mágoas, a apegos, a tudo isso. Ora, isso pode ter um fim? Naturalmente que sim. Eis a questão: isso pode ter um fim quando a própria percepção indaga: “o que é isso?” O que é a mágoa? O que é o dano psicológico? A percepção disso é o fim disso; é não o levarmos adiante, que é o tempo (Psicológico- o "vir-a-ser").
Naturalmente. Se eu não estiver ferido, não saberei nada a respeito da separação ou da não-separação. Se eu estiver ferido, serei irracional enquanto mantiver essa mágoa.
Tenham um insight, por exemplo, das mágoas e sofrimentos que uma pessoa trouxe da sua infância. Todas as pessoas são magoadas, por várias razões, desde a infância até a morte. Há essa ferida, nelas, psicologicamente.Você pode ir a um psicólogo, a um analista, a um terapeuta, e ele poderá descobrir por que você está magoado; mas não será pela mera investigação da causa que a mágoa será resolvida.
Ela está lá. As conseqüências dessa mágoa são o isolamento, o medo, a autodefesa, para evitar que você seja ferido novamente; portanto, há o fechamento em si próprio. Esse é o mecanismo da mágoa. A mágoa é a imagem que você criou de você mesmo. Por isso, enquanto essa imagem permanecer, você estará ferido, obviamente.
Pois bem, ter um insight disso tudo sem análise - percebê-lo instantaneamente - essa própria percepção é insight; ela exige toda a sua atenção e energia; nesse insight a mágoa é dissolvida. Ele dissolverá sua mágoa completamente, não deixando nenhuma marca; portanto, ninguém jamais poderá feri-lo outra vez. A imagem que você criou de você mesmo não existe mais.

(Jiddu Krishnamurti)