domingo, 29 de julho de 2012

Experiencia de Luz


Abalam alicerces antes constituídos. Alguns se veem fora do corpo, outros veem alguma luz, outros ainda viajam pelos confins do Universo em algum "corpo diferente" , mas em todos a experiencia muda a visão da vida, da morte, de perguntas basicas como "qual sentido da vida" porque perde o sentido uma pergunta como essa. Certezas são construidas, muitas vezes baseadas no que aprenderam na fé e na crença, ou mesmo utilizando-se de alguma substancia quimica, mas tudo isso ainda é algo relativo ao "Eu" com seus conceitos próprios que não responde a Universalidade do fenomeno, porque justamente o fenomeno não é especifico a alguma crença que se carrega.
Há algo mais "além". Esse algo mostra que não podemos nos basear apenas no que nosso aprendizado e constituição nos formatou, mas sim podemos nos permitir expandir nossa visão do mundo. Alguma certeza pode ser criada sim, relativa 'a eternidade, mas ao mesmo tempo não há eternidade naquilo que é formado pelo Tempo. O Ego, o Eu, aquilo que faz parte da memoria que acumula-se durante a vida e morre, não pode ser aquilo que é imortal e atemporal, porque o que é atemporal não morre e evidentemente está fora do tempo.
Somos formados pelo tempo. Nos desenvolvemos formatados pelo que nos chega em nossa volta. Nossa consciencia é o que experienciamos, aprendemos, gostamos, evitamos, brigamos , fugimos ou aceitamos. Somos e/ou nos iludimos profundamente com nossa memoria.
Existem pontos de vista quanto ao fenomeno. Um diametralmente oposto ao outro. Duas maneiras de pensar digladiam-se: Materialismo e Espiritualismo. Um nos diz que somos produto da materia e com a morte, desapareceremos.O outro modo nos diz que temos algo que é e faz parte da imortalidade, e todos nascem com isso.
Experiencias são explicadas pelos dois pontos de vista. Basicamente um ponto de vista nos diz que naqueles que tais experiencias ocorrem, algumas interações quimicas cerebrais provocam mudança do foco da consciencia, enquanto o outro ponto de vista nos diz basicamente o contrário: a mudança do foco da consciencia promove alterações quimicas no cerebro. Há dentro desses dois pontos de vista, outros fatores também, como alucinaçoes, alterações promovidas por drogas, auto-ilusão, etc. São estados alterados de consciencia. Sabemos que a mente, mente. Um exemplo clássico é visualizar imagem de santa em alguma deformação em vidros. Ocorre que há fenomenos na qual experiencias são relatadas não na fronteira da propria morte, muito menos pelo consumo de drogas, menos ainda pelo treinamento para tais experiencias, ou mesmo promovida pela Ciencia em seus experimentos provocado em alguma parte do cerebro.
Como explicar fenomenos onde visualiza-se a mesma imagem que um outro ser humano está vivendo no mesmo instante? Há , dizem, outra explicação. Essa não passa pelos polos radicais e opostos daqueles dois pontos de vista, sem antes uni-los , sem antes ultrapassa-los, transcende-los, e desse modo expandir-se na compreensão. Essa necessita de muito aprofundamento na alta espiritualidade, junto 'a  Metafísica - muito além que simples explicações tentam promover.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Metempsicose


Para compreendermos o conceito de metempsicose dos antigos filósofos platônicos é necessário, primeiro, compreendermos as idéias que eles tinham sobre “psichí” ou “princípio vital”, “pnevma” ou “espírito” e “idiótis” ou “personalidade”. Esses três termos são essenciais para a compreensão das idéias centrais do tema.
Psichí é o conjunto de forças que:
-Dão vida à matéria;
-Dão à matéria a capacidade de comunicar-se com o mundo que a cerca;
-Conferem inteligência e capacidade de sobrevivência;
-Nos seres-humanos controlam os instintos, percebem coisas e as classificam (como boas, más ou neutras);
-Guiam as ações de acordo com aquilo que é classificado e de acordo com as experiências prévias armazenadas na memória;
-Se comunica com o “soma”, o corpo, dele faz parte indissociavelmente e a ele transmite influências que podem ser benéficas ou maléficas.
Pnevma é aquilo que não pertence às classificações possíveis, ou seja, é parte do Absoluto, é a parcela que possui as “reminiscências da Verdade” e que faz com que Psichí identifique no mundo sensível aquilo que existe no mundo das idéias. Para compreender essa parte, é importante compreender bem a distinção que Platão faz entre o Mundo dos Sentidos e o Mundo das Idéias.
Pnevma é emanação do Todo, faz parte do Todo, é indissociável do Todo. Os antigos filósofos cristãos compreenderam muito bem isso quando aplicaram o termo “Pnevma” para a hipóstase mais abstrata da Trindade, ou seja, o “Espírito Santo”.
Idiótis é aquilo que chamamos de “personalidade” e que o filósofo budista Vasubhandu denominava “pudgala”. É apenas um conjunto de agregados, são características que temos devido a uma série de causas e condições mas que, individualmente, são vazias de substância real. Nós habitualmente chamamos as características de nossa personalidade de “eu” ou “meu”, mas isso não é real. Isso não é o eu (anatma).
Os tradutores latinos de Platão, até por uma questão lingüística, convencionaram chamar às três definições de Platão de “três almas”, ou seja, uma alma “racional”, uma alma “irascível” e uma alma “concupiscível”.
A alma irascível é a parte superior da psichí. Ela controla os instintos, dá o senso de bom, belo e verdadeiro ao homem e o faz buscar pela Verdade.
A alma concupiscível é a parte inferior da psichí. Ou seja, é o ponto onde as noções da psichí superior são submersas pelos instintos, pelas necessidades físicas, pelos desejos, pelos vícios etc.
Ambas as almas (concupiscível e irascível) formam a personalidade – idiótis - ambas são mortais, transitórias, efêmeras e ilusórias.
Há uma terceira alma, a “alma racional”. O termo “racional” pode ser facilmente confundido com a noção moderna que temos de “racionalidade” (um sentido cartesiano-iluminista), mas no caso, “racionalidade” se refere à potências superiores presentes no ser humano, ou seja, a capacidade de conhecer a Verdade além das definições e palavras, conhecer a Verdade pela “Reminiscência”, ou seja, pela “lembrança” da estada dessa “alma racional” no “hiperurânio”, no “Mundo das Idéias”.
A “alma racional” é justamente “Pnevma”. Pnevma é emanação do Absoluto, portanto, dele veio e para ele vai. Não é nossa personalidade, não tem nossas características, não tem “personalidade” diferenciada ou individualidade. É parte do Absoluto e, portanto, é indefinível. Isso é Atman. Todo o resto é desprovido de realidade intrínseca (anatman).
O que “transmigra” é Pnevma, pois é indestrutível e Eterno.
Quando morremos nossos agregados, aquilo que forma nossa personalidade, isso que denominamos de “eu”, acaba. Nosso cérebro seca, nossos órgãos se desfazem e cada um dos elementos retorna para outras formas de vida manifesta. No entanto, aquilo que se manifestou em nós como “Verdadeira Natureza” não morre, simplesmente retorna ao Absoluto.
A grande Iluminação é a percepção e identificação com esse “Atman” Imortal, a descoberta plena do Grande Mistério que habita em nós. Isso é impossível de definir com palavras ou tentar demonstrar.
Quando Platão fala de metempsicose está se referindo, justamente, a esse processo de emanação do Todo Absoluto para a vida manifesta. Quando uma vida se manifesta de acordo com seu nível de consciência, traz a reminiscência, ou seja, a lembrança de seu ponto de partida (O Mundo das Idéias).
A lembrança é processada pela “psiquí” ou seja, daí o termo “metempsicose” (passar através das “psiquís” – desculpem o plural aportuguesado...).
Como fica claro, isso nada tem a ver com “reencarnar”, com um “espírito” que vai trocando de corpos ou com “lembrança de vidas passadas” ou coisa que o valha.
Infelizmente hoje podemos dizer que os acadêmicos nada compreendem dos ensinamentos originais dos grandes filósofos do passado. Ficam tentando ensinar aquilo que eles mesmos ainda não entenderam...

( texto original do excelente blog "Budismo Aristocratico": http://chakubuku-aryasattva.blogspot.com.br/2010/04/metempsicose-platonica-x-reencarnacao.html )


terça-feira, 17 de julho de 2012

Tentar compreender


"Passou no seu casamento por aquilo que é quase um fato universal – os indivíduos são diferentes uns dos outros. Basicamente, constituem um para o outro um enigma indecifrável. Nunca existe acordo total. Se cometeu algum erro, esse erro consistiu em ter-se esforçado demasiadamente por compreender totalmente a sua mulher e por não ter contado com o fato de, no fundo, as pessoas não quererem saber que segredos estão adormecidos na sua alma. Quando nos esforçamos demasiado por penetrar noutra pessoa, descobrimos que a impelimos para uma posição defensiva e que ela cria resistências porque, nos nossos esforços para penetrar e compreender, ela sente-se forçada a examinar aquelas coisas em si mesma que não desejava examinar. Toda a gente tem o seu lado obscuro que – desde que tudo corra bem – é preferível não conhecer.


Mas isto não é erro seu. É uma verdade humana universal que é indubitavelmente verdadeira, mesmo que haja imensas pessoas que lhe garantam desejar saber tudo delas próprias. É muito provável que a sua mulher tivesse muitos pensamentos e sentimentos que a tornassem desconfortável e que ela desejava ocultar de si mesma. Isto é simplesmente humano. É também por este motivo que tantas pessoas idosas se refugiam na própria solidão, onde não serão incomodadas. E é sempre sobre coisas de que elas não desejariam estar muito cientes. O senhor não é, obviamente, responsável pela existência destes conteúdos psíquicos. Se, apesar disto, ainda for atormentado por sentimentos de culpa, reflita então sobre os pecados que não cometeu e que gostaria de ter cometido. Isto poderá eventualmente curá-lo dos seus sentimentos de culpa relativamente à sua mulher."


Carl Jung, in ‘Cartas’

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Sofrer


“Quanto mais sofremos, mais o ego se fortalece.
Achamos que sofremos “por nós”, que o sofrimento é
necessário. Acreditamos que sofremos para suprimir o
sofrimento e que ele logo desaparecerá. Ora, ele sempre
volta mais forte e, habituados, nem mais o sentimos. É aí
que ele ganha terreno. E quanto mais sofremos, menos
queremos olhar o sofrimento de frente, pois tal atitude nos
obriga a “nos” questionar profundamente. Na verdade e
muito pelo contrário, só assim poderíamos nos
reencontrar. Mas é justamente esse o problema: não somos
capazes de distinguir entre o si e o ego e tememos,
portanto, nos perder. Não sabemos mais quem somos.
Então, continuamos a nutrir nossos parasitas, esperando
que isso provoque algum alívio em nossa situação. É
assim que nos tornamos dependentes do sofrimento.”
“Os mecanismos que provocam o sofrimento se autosustentam.
Nutrem-se da energia da alma para fazê-la
voltar-se contra si mesma. Tornam-se necessários, fazem-se
passar por ela, quando, na verdade, trabalham para
destruí-la. Chamamos de ‘ego’ a imagem protetora que o
conjunto desses parasitas edifica a fim de enganar a alma.”


( o Fogo Liberador - Introdução)