terça-feira, 25 de dezembro de 2012

o Grande Deserto



Nós aprendemos a seguir caminhos que foram definidos pelos nossos pais e mestres que seguem uma tradição e uma cultura. Aprendemos a seguir caminhos conhecidos e testados que tem inicio, meio e fim; aprendemos a tratar objetivos a serem alcançados em curto, médio e longo prazos; aprendemos a separar o bem do mal, o certo do errado. Assim levamos a nossa vida, nos identificando com um grupo social, uma sociedade e uma nação. Nos sentimos parte de um núcleo familiar; do nosso grupo social e profissional; do nosso clube social, do nosso time de futebol, do nosso partido político, da nossa corrente filosófica e da nossa religião. Nos sentimos felizes e realizados porque temos uma suposta liberdade. " Liberdade" porque podemos escolher, com exceção da familia e da nossa natureza individual, o grupo do qual queremos participar.
O caminho tratado pela nossa mente racional e lógica. Os caminhos tem nomes ou rótulos porque são segmentos, partes de um todo. Assim nos identificamos com partes, com um trabalho feito pela mente que identifica, compara e separa. Por exemplo: alguem "gaúcho", "advogado", "gremista",  brasileiro e católico; outro "carioca", "vascaíno", "médico", brasileiro e adventista; etc. etc. Estes são apenas  exemplo de como somos parciais e de como todos estes valores estão profundamente impregnados na nossa mente - obviamente nalguns mais, noutros menos. Observem que as pessoas sentem orgulho de suas escolhas e essa paixão chega a tal ponto que são capazes de matar e morrer pelas suas "verdades". As paixões tornam as pessoas cegas e surdas para outras realidades. As escolhas reduzem as pessoas a um "rebanho" que segue um pastor, um ídolo, um filosofo, um líder, um mestre, um gurú, um salvador, uma "autoridade". A escolha nos incapacita de ver a imensa beleza que se estende para algum dos caminhos.
Muitos se dizem felizes com suas opções; muitos outros são infelizes e partem em busca de outros caminhos. Desses, a maioria depois de experimentar alguns encontra um com o qual se identifica e ao qual dedica o resto de sua vida. Alguns poucos não encontram respostas em nenhum caminho e começam a abrir trilhas próprias. Por que? Porque cada ser humano é um Universo. Cada vida é uma experiencia única. Não há duas vidas iguais. Não há duas experiencias iguais. Cada um tem o seu caminho que representa o desenvolvimento de sua natureza, de suas potencialidades. A verdade é individual, própria, e, portanto ninguém pode ensiná-la. Ela é uma descoberta pessoal. A felicidade consiste, portanto, em trilhar cada qual seu caminho conforme  características internas e externas.
A consciência, ao ultrapassar o ego, nos mostra que a natureza individual é propria e as experiencias únicas.
A tão propalada igualdade entre os homens não existe, pois nas motivações todos somos absolutamente diferentes uns dos outros. Essa diferença está no nível de consciencia e na herança genética, física e "na alma". A ampliação da consciência, que alguns também chamam de "ascenção", é um processo unico e individual. Ninguem terá uma identica experiencia. Esta somente pode ser rotulada em termos gerais como um processo de autotransformação, individuação, renascimento pelo espírito, etc.
Iniciamos por caminhos conhecidos; seguimos abrindo trilhas proprias em busca da Verdade, e, depois de experimentar toda sorte de belezas e dificuldades na travessia do grande deserto, começamos a despertar. Percebemos, então, que estamos de onde partimos. Retornamos ao ponto inicial. Procurávamos um tesouro - a Verdade - em terras distantes. Observamos que estávamos fora. Caminhamos, trilhamos terras distantes (a Ciência,Filosofias, Religiões, Doutrinas...) procurando respostas para a nossa ânsia interior. Buscávamos a Verdade fora de nós. Nunca a encontraríamos porque ela está dentro de nós.

Textos de alguns mestres:

Mestre Sufi:
"A verdade não  é um fim a ser alcançado num dado momento no futuro; É a realidade do passo que se dá neste preciso momento. É um erro pensar que a realidade é como uma linha horizontal, uma progressão linear, da causa-efeito, do começo ao fim, da idéia á realização. A realidade é um círculo infinito e cada ponto da circunferência é, simultaneamente, o centro, o ponto de partida e o ponto de chegada.
Onde quer que estejamos, aqui não há nem limiar, nem exterior, nem mais baixo, nem mais alto, nem princípio e nem fim. Seja o que for o que agora o mundo nos dá, nós estamos no centro das nossas vidas, passo a passo no caminho aberto. É isto. A paz última está no centro da forte tempestade da vida diária. Assim sendo, como podemos desprezar um grão de arroz que seja?
Conseguiste agarrar uma parte do tempo? Por favor, mostra-ma. Se o fizeste ou bem ela é um espécime morto (visto estar separado da corrente viva da vida) ou então não é nenhuma parte; É o todo!
Onde está este ínfimo instante? O cosmos inteiro está nele contido! E tu onde estás? Em nenhum outro lugar que não seja o centro do universo, onde também estão todos os instantes e todos os seres. Sabendo isto, como podes dividir o mundo em partes?
Devíamos ver este instante intemporal sem o fragmentar. Devíamos ver este presente sem espaço e este único milagre da vida original como a realidade total do nosso ser."

Tagore:
"Onde as rotas estão traçadas eu perco o meu rumo. Sobre o mar intenso, no azul do céu, não há nenhuma linha traçada. Sente-se a direção pelo voo dos pássaros, pelo brilho das estrelas, pelas flores das diferentes estações. E eu pergunto ao meu coração: acaso não conhece o invisível caminho?"

sábado, 22 de dezembro de 2012

Destruição libertadora


É bem óbvia a necessidade de uma revolução radical. A crise mundial a exige. Nossas vidas a exigem. Nossos incidentes, desejos, atividades, anseios de cada dia, a exigem. Nossos problemas a exigem. Faz-se necessária uma revolução fundamental, radical, porque tudo ruiu ao redor de nós. Embora, aparentemente, exista ordem, observa-se um lento declínio, uma lenta decomposição. A onda de destruição está superando constantemente a onda da vida. 
É necessária, pois, uma revolução, mas não a revolução baseada em idéia. Em vista da catástrofe que estamos presenciando - a constante repetição das guerras, o incessante conflito entre classes, entre pessoas, a horrível desigualdade econômica e social, de capacidades e talentos, o abismo que se abre entre os que são muito felizes, livres de perturbações, e os que se debatem nas malhas do ódio, do conflito e do sofrimento - em vista de tudo isso, há necessidade de uma revolução, de uma transformação completa.
A transformação não está no futuro, não pode estar no futuro. Ela só pode ser agora, momento a momento. Assim sendo, que entendemos por transformação? Ora, é muito simples: é ver o falso como falso, e o verdadeiro como verdadeiro. Ver a verdade no falso, e ver o falso naquilo que foi aceito como verdade. Quando se vê que uma coisa é falsa, essa coisa falsa se extingue. Quando se vê que a distinção de classes é falsa, gera conflitos, cria miséria, divisão entre os homens, se se percebe a verdade a esse respeito, essa própria verdade liberta. O próprio percebimento dessa verdade é transformação. 
E nós necessitamos deveras de uma mudança completa, de uma tremenda revolução. Necessitamos não de uma mudança de idéias, de padrões, mas, sim, da demolição, da destruição total de todos os padrões. E a mudança é necessária, pois não podeis continuar a viver com essas atitudes, crenças e dogmas tão insignificantes, estreitos, limitados. 
Tudo isso precisa ser destroçado, destruído. 

( Krishnamurti )
- Krishnamurti prega a saida consciente da sociedade promiscua e decadente, através de pequenas comunidades.



sábado, 15 de dezembro de 2012


Todo o homem que é um homem sério, tem de aprender a ficar sozinho no meio de todos, a pensar sozinho por todos e, se necessário, contra todos.

(Romain Rolland)



domingo, 9 de dezembro de 2012

Suas prisões


E o meu coração sangrou por dentro; pois só se pode ser livre quando o desejo de encontrar a liberdade se tornar a vossa torta e quando deixardes de falar de liberdade como objectivo e plenitude.
Sereis verdadeiramente livres não quando os vossos dias não tiverem uma preocupação nem as vossas noites necessidades ou mágoas.
Mas quando estas coisas rodearem a vossa vida e vós vos ergais acima delas, despidos e libertos.

 (Khalil Gibran )



quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

(Des) Amor

"A criança é a primeira vítima destas imagens, pois se trata de sufocar a liberdade desde o berço. 
É necessário tornar-los estúpidos e tirar-lhes toda capacidade de reflexão e de crítica. 
Tudo isso se faz, evidentemente, com a cumplicidade desconcertante dos pais que não buscam se quer resistir frente à força imponente de todos os meios modernos de comunicação. Eles mesmos compram todas as mercadorias necessárias para escravizar sua progenitura. Desapropriam-se da educação de seus filhos e deixam que o sistema alienador e medíocre, se encarregue dela."


Alimentação moderna


"Dispondo de um tempo cada vez mais limitado para preparar a comida que ingurgita, ele se vê obrigado a engolir rápido o que a indústria agroquímica produz, errando pelos supermercados à procura dos cartazes que a sociedade da falsa abundância consente em dar-lhe. Ai ainda, só lhe resta a ilusão da escolha. A abundância dos produtos alimentícios apenas dissimula sua degradação e sua falsificação. Não são mais que organismos geneticamente modificados, uma mistura de colorantes e conservantes, de pesticidas, de hormônios e de outras tantas invenções da modernidade. 
O ***prazer imediato é a regra*** do modo de alimentação dominante, também é a regra de todas as formas de consumo. 
E as conseqüências que ilustram esta forma de alimentação se vêem em todas as partes."



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Medicina ocidental


"A medicina ocidental só conhece um remédio contra os males dos quais sofrem os escravos modernos: a mutilação. É à base de cirurgias, de antibiótico ou de quimioterapia que se trata os pacientes da medicina mercantil. Nunca se ataca a origem do mal, senão que a suas conseqüências, pelo motivo de que esta busca da origem do mal nos conduziria inevitavelmente à condenação fatal da organização social em toda sua totalidade."



Possuidor e possuído


Todas as mercadorias, distribuídas massivamente em um curto lapso de tempo, modificam profundamente as relações humanas: servem por um lado para isolar os homens um pouco mais de seu semelhante e por outro a difundir as mensagens dominantes do sistema. As coisas que se possuem acabam por possuir-nos. 


E a moda atual da mediocridade humana é viajar apenas para compras em outras cidades em outros países.

" Assim como os imperadores da Roma antiga compravam a submissão do povo com pão e jogos, hoje em dia é com diversões e consumo do vazio que se compra o silêncio dos escravos."



domingo, 2 de dezembro de 2012

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“ O que outrora se fazia “por amor a Deus”, hoje se faz por amor do dinheiro, isto é, daquilo que hoje confere o sentimento de poder mais elevado e a boa consciência.”
Aurora - Nietzsche



"Como todos os seres oprimidos da historia, o escravo moderno precisa de seu misticismo e de seu deus para anestesiar o mal que lhe atormenta e o sofrimento que o sufoca. 
Mas este novo deus, a quem entregou sua alma, não é nada mais que nada. 
Um pedaço de papel, um número que apenas tem sentido porque todo mundo decidiu dar-lhe. 
É em nome desse novo deus que ele estuda, que ele trabalha, que ele luta e se vende. 
É em nome desse novo deus que abandonou seus valores e está disposto a fazer qualquer coisa. 
Ele acredita que quanto mais tem dinheiro mais se libertará dos problemas dentro dos quais ele está aprisionado. Como se a possessão andasse de mãos dadas com a liberdade. 
A liberação é uma ascese que provém do domínio de si mesmo; um desejo e uma vontade de atuar. 
Está no ser e não no ter. 
Porém é preciso decidir-se a não mais servir, nem obedecer. 
É preciso também romper com esse hábito que, ao parecer, ninguém ousa recriminar."

sábado, 1 de dezembro de 2012

Egos inflados

"Sem tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em lugares onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte... Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa.”

Rubem Alves