O homem aproximou-se do espinho.
Ergueu a mão para tocá-lo. Um ai! de dor brotou dos seus lábios, um rubi de sangue no seu dedo brilhou.
Tocou no espinho e foi ferido. O homem limpou o sangue, e disse, fitando o espinho:
- Eu te perdôo.
Admirei e louvei em mim aquele homem que possuía o doce dom de perdoar.
E aconteceu que veio outro homem. Parou junto ao espinho. Ergueu a mão para tocá-lo, e o espinho o picou. Mas o homem limpou em silêncio a ferida. Contemplou com amor o espinho. E não disse "Eu te perdôo".
Tive então este pensamento:
' O primeiro homem era um santo. Sabia perdoar. Este outro não sabe.'
Mas o meu Senhor, interrompendo a minha cisma, disse:
- Quem não sabe és tu.
- Como, Senhor? Então aquele homem ...?
- Sim, é um santo, porque perdoou quando foi preciso!
- E o segundo?
- É mais santo ainda, porque não tem necessidade de perdoar.
E como eu ficasse perplexo, com o olhar perdido na incompreensão, na dúvida, o Senhor me disse:
- O espinho fere, porque é espinho. Ainda que ele quisesse jamais poderia perfumar. O primeiro homem sentiu a dor da picada. E como não sabia nada, atribuiu culpa ao espinho. Mas, como era limpo de coração, perdoou. O outro sentiu a mesma dor. Mas, como sabia que todo espinho fere, pois que o espinho é assim, não se sentiu ofendido. E como nada tinha a perdoar, não perdoou.
Desde então sofro menos quando os espinhos me ferem. Dói-me a ferida. Mas minha alma sabe que não há ofensa. E como não há ofensa, não há perdão. É assim que do meu peito brota um piedoso amor pelo espinho, que não chegou a ser flor.
Meu sofrimento se transforma em ternura. Porque já aprendi a não perdoar.
( Santiago Arguello)
( Santiago Arguello)
Quanta sabedoria... perfeito!!!
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