O Budismo é uma filosofia de vida (e não uma religião) baseada nos ensinamentos deixados por Sidarta Gautama, o Buda histórico, que viveu aproximadamente entre 563 e 483 a.C. no Nepal. Essa filosofia é difundida no mundo todo e encarada por alguns como religião, embora o Buda não seja considerado um Deus e seus ensinamentos nada tenham de místico.
O objetivo do budismo é fazer com que cada um liberte-se do sofrimento e encontre a felicidade. Não há nenhum Deus, nenhuma liturgia, nenhum livro sagrado. Por isso, o budismo original é um estilo de vida não-sectário, que pode ser seguido por qualquer um, mesmo que seja praticante de uma religião.
O principal ensinamento do budismo está concentrado no que é comumente chamado de As Quatro Nobres Verdades, sendo que a última delas desdobra-se no Nobre Caminho Óctuplo, uma prática de oito passos para conduzir as pessoas à felicidade.
Devido às dificuldades de tradução e transmissão oral dos ensinamentos, em muitos lugares – inclusive na Wikipedia – as Quatro Nobres Verdades são apresentadas da seguinte forma: “A vida é sofrimento; a causa do sofrimento é o desejo; a cessação do sofrimento é se ver livre do desejo; o modo de fazê-lo é o Caminho Óctuplo”.
Vejamos agora como seria uma interpretação mais adequada das Quatro Nobre Verdades.
Primeira Nobre Verdade: a vida está em desequilíbrio-
Na tradução mais popularizada, temos que “a vida é sofrimento”. Porém, basta olhar os ensinamentos do Buda para observar que ele jamais definiria uma coisa tão maravilhosa quanto a vida como “sofrimento”.
O que o Buda quis dizer foi que a vida de quem não se conscientiza está fora do eixo, está caminhando para o rumo equivocado, está fora de equilíbrio. É esse desequilíbrio que leva ao sofrimento. É como um carro que tivesse um dos eixos quebrados e por isso ficasse rodando em círculos, sem nunca chegar aonde pretende.
Segunda Nobre Verdade: o desejo fora de hora leva ao sofrimento-
“A vida é sofrimento e o que causa o sofrimento é o desejo”. A versão da qual discordamos diz que a causa dos sofrimentos é o desejo. Mas o que seria da vida sem desejos, sem a motivação do crescimento? O homem não teria chegado aonde chegou não fosse seu desejo pelo saber, pelo progresso – com todas as suas conseqüências positivas e negativas.
A razão pela qual nós sofremos é o desejo fora de hora, o hábito de estar sempre querendo antecipar o futuro, querendo mais e mais, ou de estar relembrando o passado, sem nunca aproveitar o momento presente.
Se nunca estamos satisfeitos com o momento de agora, estamos sempre querendo alguma outra coisa. Essa é a principal causa do sofrimento. Se estivermos presentes, vivendo completamente o momento presente, não haveria “querer” e “não querer”. Estar-se-ia em plenitude.
"O momento em que você quer ou não quer é o momento em que você deixa o agora, o momento presente, e aí, então, isso leva ao sofrimento. "(Rodney Downey)
Terceira Nobre Verdade: libertar-se do apego ao desejo-
A terceira nobre verdade tradicionalmente é contada como a extinção do desejo para o fim do sofrimento. Mas não foi exatamente isso que o Buda falou.
A palavra usada pelo Buda histórico foi nirvana, que significa apagar. Porém, segundo a filosofia daquela época, quando se apaga uma chama, diz-se que a chama ficou livre. Quando se acende, captura-se a chama.
Apagar um desejo, nesse sentido, significa libertá-lo. Quando abandonamos o apego ao “eu quero” e “eu não quero”, nossa vida entra em equilíbrio. Estamos, finalmente, livres.
Não apague seus desejos, eles são uma motivação necessária para a vida. Apenas desapegue-se de estar sempre querendo algo mais e deixando de viver o momento presente, deixando de viver a vida.
Quarta Nobre Verdade: o Nobre Caminho Óctuplo-
O Nobre Caminho Óctuplo é a maneira pela qual o ser humano pode libertar-se do apego ao desejo. São oito atitudes que devem ser seguidas no dia-a-dia. São instrumentos práticos para colocarmos a nossa vida em equilíbrio e nos aproximarmos da felicidade. Não há neles nada de místico.
1. Palavra apropriada
Você deve apenas falar a verdade. Deve apenas fomentar conversas que causem harmonia e progresso. Deve usar palavras leves, elogiosas e construtivas. Deve somente conversar produtivamente.
2. Ação apropriada
Suas ações devem preservar os seres vivos: homens, animais e vegetais. Você deve pegar apenas aquilo que lhe pertence. Deve ser fiel ao companheiro amoroso. Deve ingerir apenas alimentos e bebidas que façam bem à sua saúde. É por isso que muitos budistas são vegetarianos, para não causar sofrimentos aos animais, que são seres sencientes (ou seja, que sentem dor).
3. Meio de vida apropriado
A profissão escolhida deve ser honesta, para o bem comum e nunca prejudicando e explorando nosso semelhante.
4. Esforço apropriado
Você deve esforçar-se para fazer o bem e consertar o que está equivocado, fora de equilíbrio.
5. Plena atenção apropriada
Você deve viver em estado de constante atenção. Atenção com o corpo, com as sensações, com os pensamentos e com os sentimentos.
6. Concentração correta
A concentração é a mente unipolarizada, isto é: mente voltada para um único ponto. Desenvolver a concentração requer que você abra mão do desejo passional e egoísta por todo o prazer sensual e material. Que cultive a alegria, a tranquilidade e o amor. Que mantenha-se ativo e disposto; relaxado e despreocupado; certo do seu objetivo de vida.
7. Compreensão apropriada
Compreender as Quatro Nobres Verdades
Compreender as três características da existência: O corpo é impermanente, as sensações são impermanentes, as percepções são impermanentes, as formas mentais são impermanentes, e as consciências são impermanentes. E tudo o que é impermanente é sujeito ao sofrimento e mudança. Dessa forma, não se pode dizer “isto pertence a mim” ou “isto é meu”.
Compreender as ações meritórias (a ação apropriada, a palavra apropriada e o pensamento apropriado) e a raiz dessas ações: renúncia, desapego, boa vontade, benevolência, generosidade, moralidade, meditação, reverência, gratidão, respeito, altruísmo, transferência de mérito, alegria pelo sucesso alheio, ouvir a doutrina, expor a doutrina, ter corretos ponto de vista e compreensão.
Compreender as ações demeritórias (Pelo corpo: destruir seres vivos, roubar e explorar, adultério, ingerir tóxicos e bebidas alcoólicas. Pelo verbo: mentir e caluniar, levar e trazer conversas, palavras pesadas, duras e ofensivas, tagarelice e conversas frívolas. Pela mente: cobiça-egoísmo, vaidade, má vontade, ódio e raiva, errôneos pontos de vista.) e a raiz dessas ações: cobiça, ódio, ilusão, ignorância, egoísmo.
8. Pensamento apropriado
São todos os pensamentos que vêm das ações meritórias e que devem ser mantidos em nossa mente o máximo de tempo possível. Quando um pensamento inapropriado – aquele baseado nas ações demeritórias – surgir, deve ser imediatamente substituído por um pensamento apropriado.
( Toni Durden - fonte: http://mude.nu/mente/budismo-busca-felicidade-contra-sofrimento/ )
Quem é você?
Por que, para os budistas, você não existe?
Você não existe. Isso o que você chama de “eu” é apenas uma ilusão e o apego a esse ego é a maior fonte de sofrimento da sua vida. É o que lhe impede de alcançar a plena felicidade.
As ideias acima fazem parte – de modo simplificado – da teoria da Dissolução da Noção de Ego, um dos principais ensinamentos do Budismo. Essa teoria serve muito bem para quem tem outras crenças e religiões, ou mesmo para quem não tem crença alguma e quer apenas se tornar uma pessoa mais livre, mais feliz.
Existem diferentes interpretações sobre o que seria exatamente a Dissolução da Noção de Ego. A lógica é a de que tudo o que existe no mundo está interligado e é interdependente. Não faz sentido, portanto, a visão dualista que normalmente temos entre “eu” e “os outros”.
Quando quebramos essa visão, paramos de julgar, condenar, brigar com os demais seres. Não teríamos como prejudica-los sem prejudicar a nós mesmos. E o melhor: ajudando-os, estamos ajudando a nós mesmos.
Mas quem seria esse “eu” que ajuda ou prejudica?
Você é o seu corpo? Você se definiria como um amontoado de células, ossos, músculos e pêlos?
Você é a sua mente? Por acaso você a controla? Experimente fechar os olhos por alguns segundos e prestar atenção somente na sua respiração.
Você vai notar que, após um pequeno espaço de tempo, seus pensamentos vão longe. Mas como isso acontece? Não é você que controla a sua mente e não era você quem ia focar somente na respiração?
Quem já praticou um pouco de meditação sabe que os pensamentos surgem e desaparecem num espaço amplo. Algumas vezes nos apegamos a um deles, afirmando que somos nós quem estamos o pensando. Mas não seria o contrário? Não seriam os pensamentos que pensam a si mesmo?
Sendo assim, você ainda é a sua mente?
Quanto mais você tentar observar, mais vai ver que não existe um “eu” intrínseco a quem se apegar. O personagem que construímos constrói também um mundo só dele.
" “Um ser humano é parte de um todo chamado por nós de Universo, é uma parte limitada no tempo e no espaço. Ele experiencia a si mesmo, seus pensamentos e sentimentos, como alguma coisa separada do resto ─ uma espécie de ilusão de ótica de sua consciência. Essa ilusão é uma forma de prisão para nós, restringindo-nos aos nossos desejos pessoais e à afeição por umas poucas pessoas próximas. Nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos dessa prisão alargando nossos círculos de compaixão para envolver todas as criaturas vivas e o todo da natureza em sua beleza. Ninguém pode conseguir isso totalmente, mas a luta para a realização desta façanha, em si mesma, é parte da libertação e base da segurança interior.” – Albert Einstein "
Entendendo que não há distinção entre o “eu” e “os outros” podemos amar incondicionalmente todas as criaturas vivas, podemos perceber que não há momentos ordinários. Por mais piegas que possa parecer, essa é uma forma ampla e sábia de se viver. A compaixão que vem dela gera altos níveis de felicidade, que é o que todos nós buscamos na vida.
Liberte-se da prisão do ego
Quando a percebemos a não-dualidade, essa percepção é libertadora, porque abre um caminho maravilhoso de novas possibilidades.
Geralmente, o que fazemos é o processo inverso. Nos martirizamos, nos culpamos por não seguirmos uma conduta que achamos que deveríamos ter, mas que não conseguimos seguir com consistência. O resultado é frustração e tristeza.
Essa é uma espécie de autoviolência que encontra fundamento em várias religiões, inclusive na Católica. É a ideia de que já nascemos com pecados e devemos nos punir sempre que cometamos alguma falta que não esteja condizente com aquilo que se espera de nós.
" Algumas pessoas dizem que a prática budista visa dissolver o eu. Não compreendem que não existe um eu a ser dissolvido. Existe apenas a noção do eu a ser transcendida. – Thich Nhat Hanh "
A ilusão do ego é o resultado de uma visão corrompida da nossa relação com o mundo. É como uma doença que toma vida dentro de nós, que precisa ser tratada para que se restabeleça o equilíbrio da vida.
Para o budismo, essa doença é tratada através de um caminho prático de ações no cotidiano, sem nada de misticismo. Esse caminho é chamado de Nobre Caminho Óctuplo e sua prática, por si só, já é a própria libertação.
Em outras palavras, não se percorre o caminho para chegar à felicidade. A felicidade é o próprio caminho.
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