terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Realidade da atualidade


Realidade da atualidade...
É verdade que a modernidade e tecnologia nos tras uma mudança radical em todos os setores da sociedade.
José Saramago, no passado em entrevista, deu uma visão um tanto pessimista da nossa realidade. Dizia ele que a mudança do milênio coincide com o fim de uma era e o início de uma nova civilização em que a informação passa a ser uma mercadoria; que o mundo atual não é diferente da Idade Média em que apenas uma pequena elite tem o conhecimento enquanto a grande massa é profundamente ignorante. Afirmava que está havendo uma analfabetização dos alfabetizados tamanho é o número de informações que diariamente são produzidas em todas as áreas do conhecimento; e comparou o homem atual ao homem de Neanderthal com um computador.
Na verdade o desenvolvimento científico e tecnológico não é acompanhado pelo desenvolvimento ético.O homem continua profundamente ignorante quanto a si mesmo. A tecnologia trouxe tanta comodidade que poucos ousam buscar caminhos próprios. Ninguém quer pensar. Esta tarefa é transferida para outros. Todos querem verdades prontas e acabadas. Na verdade, o homem sempre foi assim. Entretanto, em nenhuma época o homem teve tanta facilidade à informação global.Mas apesar de tudo isto ele continua observando apenas o seu mundo externo, o outro.
Ele ainda é incapaz de olhar para dentro de si .

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

algo de Nietzsche...


Na leitura ou estudo de uma obra, nós a abordamos a partir da nossa subjetividade.
É o meu universo que está interagindo com as idéias do autor.
Quanto mais ampla a consciência, maior é a percepção da diferença que nos distingue do outro e mais facilmente compreendemos as suas motivações e a sua realidade. Admira-se Nietzsche pelas profundas reflexões sobre a questão humana:

1. Sobre o grande livramento e a dor.

"Eis o que há de ruim e doloroso na história do grande livramento. É, ao mesmo tempo, uma doença que pode destruir o homem, esta primeira irrupção de força e vontade de autodeterminação, de valoração própria, essa vontade de vontade livre: e quanto de doença se experimenta nos selvagens ensaios e excentricidades com que o que se livrou, o libertado, procura doravante demonstrar seu domínio sobre as coisas! Ele ronda cruelmente, com uma cupidez insatisfeita; o que ele pilha tem de pagar pela perigosa tensão de seu orgulho: ele estraçalha o que atrai. Desse isolamento doentio, do deserto desses anos de ensaio, o caminho ainda é longo até aquela descomunal segurança e saúde transbordante, que não pode prescindir nem mesmo da doença, como meio e anzol do conhecimento, até quela madura liberdade do espírito que é também autodomínio e disciplina do oração e permite os caminhos para muitos e opostos modos de pensar. Ele olha com gratidão para trás - grato a sua mudança, a sua dureza e a seu estranhamento de si, a seu olhar a distância e a seu vôo de pássaro em frias altitudes. Que bom que ele não permaneceu, como alguém delicado, embotado, que fica em seu canto, sempre, "em casa", sempre "junto de si"! Ele estava
"fora" de si: não há dúvida nenhuma. Somente agora vê a si mesmo - e que surpresas encontra nisso! Que arrepio nunca provado! Que felicidade ainda no cansaço, na velha doença, na recaída do convalescente... São os animais mais gratos do mundo, e também os mais humildes, estes convalescentes e lagartos semivoltados outra vez à vida: - Há entre eles os que não deixam partir nenhum dia sem pendurar-lhe um pequeno hino de louvor na orla do manto que se afasta".(1)

"...Na doutrina dos mistérios a dor é declarada santa: "as dores da parturiente" santificam a dor em geral - todo o vir a ser e crescer, tudo que garante futuro condiciona a dor... Para que haja o eterno prazer de criar, para que a vontade de vida afirme eternamente a si mesma, é preciso também que haja eternamente o "tormento da parturiente"...(2)

2. Reversão absoluta da compaixão entendida como amor ao próximo e auto-superação.

"Aconselho-vos eu o amor do distante!... Não vos ensino o próximo, mas o amigo. Seja o amigo para vós a festa da terra e um pressentimento do além do homem."

Esta concepção da vida é entendida como auto-superação incessante em busca de formas cada vez mais ricas, complexas, refinadas. Para Nietzsche, a vontade última da vida, da vida em sua plenitude, é a de criar ultrapassando a si mesma (über sich selbst hinaus schaffen):

"Bom e mal, rico e pobre, e elevado e pequeno, e todos os nomes de valores: armas devem ser marcas sonantes de que a vida tem que se superar continuamente a si mesma! Em direção à altura quer edificar-se, com pilares e escalões, a própria vida: na direção de vastas distâncias quer olhar e na direção de bem-aventuradas belezas - porisso carece de altura! ... Subir quer a vida, e subindo superar-se a si mesma."
Criar para além do já alcançado tem que ser inseparável da destruição e do sofrimento. Para tal compreensão da vida, faz-se necessário sobretudo a coragem para aventurar-se em todos os abismos e labirintos da alma:
"A coragem mata inclusive a vertigem juntos aos abismos: e em que lugar não estaria o homem junto a abismos? O próprio ver, não é ver abismos? A coragem é o melhor matador: a coragem mata inclusive a compaixão. Mas a compaixão é o abismo mais profundo: à medida que o homem aprofunda seu olhar na vida, ele aprofunda também seu olhar na dor. Mas a coragem é o melhor matador, a coragem que ataca: ela mata ainda a morte, pois ela diz: era "isso" a vida? Pois bem! Mais uma vez!"(3).

3.Vontade de poder.

"Com certeza não acertou na verdade quem disparou para ela a palavra: "vontade de existência": essa vontade não existe! Pois o que não é não pode querer; o que, porém, está na existência, como poderia ainda querer a existência! Apenas, onde há vida, também, há vontade: mas não vontade de vida, porém - assim eu t’o ensino - vontade de poder"(3).
O combate para dissipar as trevas da ignorância, do engodo e da superstição devemos fazê-lo em teoria e na prática.

(1) Friedrich Nietzsche, "Humano, Demasiado Humano";
(2) idem, "O Crepúsculo dos Ídolos";
(3) idem, "Also sprach Zaratustra" citados por Oswaldo Giacóia Júnior em
"Labirintos da Alma: Nietzsche e a auto-supressão da moral" - Ed. Da
UNICAMP.
(belo mundo interior de um amigo)