quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sobre o desejo sexual

''Contribui muito para essas ilusões o caráter enganador do desejo sexual. 
O desejo sexual visa á fusão, e não é, de forma alguma, apenas um apetite físico, o alívio de uma tensão dolorosa. Ele pode ser estimulado pela ansiedade da solidão, pela vaidade, pelo desejo de conquistar ou ser conquistado ( sadismo/submissão ), pela vaidade, pelo desejo de machucar e até destruir, assim como pode ser estimulado pelo Amor.
Parece que o desejo sexual pode e costuma vir mesclado sempre a uma emoção forte, ser facilmente estimulado por ela, e o amor é apenas uma dessas emoções, e a mais rara de se ocorrer.
Como o desejo sexual está, na cabeça da maioria das pessoas, ligado à ideia de amor, elas são facilmente levadas a INFELIZ conclusão equivocada de que as pessoas se amam quando se desejam fisicamente.
O amor pode inspirar o desejo de união sexual: nesse caso, a relação física é privada de ganância, do desejo de conquistar ou ser conquistado ( sadismo/submissão), e é então carregado de ternura. Se o desejo de união física não for estimulado pelo amor, se o amor erótico não for também amor fraterno, nunca levará a mais que uma união orgiástica e transitória. A atração sexual cria, momentaneamente, a ilusão de união, mas se não houver amor, essa ''união'' deixa os estranhos tão distantes um do outro quanto estavam antes.
As vezes ela os faz ficar um com vergonha do outro, ou até ter raiva um do outro, porque, quando a ilusão se dissipa, eles sentem seu estranhamento de forma ainda mais acentuada do que antes. A ternura não é, de maneira nenhuma, como FREUD acreditava, uma sublimação do instinto sexual; ela é o resultado direto do amor fraterno e existe tanto nas formas físicas como não físicas do amor.''

Erich Fromm