domingo, 27 de novembro de 2011

Deus, a Criação e o Homem segundo a Gnose


Os cristãos gnósticos sustentavam que, no início, havia apenas Um. Esse Deus único era totalmente espírito, totalmente perfeito, impossível de ser descrito, muito além de atributos e qualidades. Esse Deus não é somente desconhecido dos seres humanos; ele é icognoscível. Os textos gnósticos não explicam porque isso acontece, exceto quando sugerem que ele é tão “outra coisa” que as explicações- as quais requerem tornar conhecível algo que não é conhecível comparando-o a algo mais- simplesmente não pode funcionar.
De acordo com os mais variados mitos gnósticos, esse Deus único icognoscível por alguma razão criou um reino divino a partir de si mesmo. Em alguns desses mitos, de algum modo as essências perfeitas desse Único tornam-se elas mesmas autoexistentes. Assim, por exemplo, esse Único passa a eternidade pensando. Ele pensa, é claro, somente em si mesmo pois ele é tudo que há. Seu próprio pensamento, porém, deve existir, pois ele pensa. Dessa forma, seu pensamento se torna uma entidade própria. Além disso, esse único sempre existe e, portanto, sua existência eterna, sua eternidade, existe, tornando-se uma entidade própria. Esse Único está vivo; na verdade, ele é Vida, e assim sua própria vida existe. A Vida então se torna uma entidade própria. E assim por diante.
Dessa forma, emergem desse Único outras entidades divinas, emanações do Um, chamadas eons( Pensamento, Eternidade, Vida etc); além disso, alguns desses eons produzem suas próprias entidades, até que haja um reino inteiro de eons divinos chamado às vezes de Totalidade ou, usando um termo grego, o Pleroma.
Os mitos gnósticos são desenvolvidos para mostrar não somente como esse Pleroma veio a existir no passado da eternidade, mas também como o mundo em que vivemos veio a existir e como nós mesmos chegamos aqui. O que esses mitos parecem ter em comum é a idéia de que há um tipo de movimento para baixo, dos espíritos para a matéria, e de que a matéria é uma degeneração da existência, o resultado de uma pertubação no Pleroma , uma catástrofe no cosmo. Em alguns desses sistemas, é o aeon final o problema, um aeon chamado Sabedoria ou, usando o termo grego, Sofia. Os mitos têm modos diferentes de explicar como a “queda” da Sofia do Pleroma levou às terríveis consequências do mundo material. Um dos mitos mais familiares se encontra no Livro Secreto de João, um relato de uma revelação feita por Jesus a João, filho de Zebedeu, após a ressurr.eição. Esse livro foi um dos trabalhos descobertos (em várias versões) perto de Nag Hammadi, em 1945; uma versão desse mito pode ser encontrada nos resumos de Irineu. Neste mito gnóstico, Sofia decide gerar um ser divino sem a assistência de seu consorte masculino, levando a uma criação malformada e imperfeita. Temerosa de que seu ato incorreto fosse descoberto, ela retira sua criação do reino divino para uma esfera inferior onde ninguém possa vê-lo, deixando-o então, à sua própria sorte. Ela o chama de IALDABAÓ, um nome remininescente de “Iavé o Senhor dos Sabás”, do velho testamento, pois esse ser divino malformado e imperfeito é o Deus judaico.
Adão e Eva no Éden
De acordo com essa forma de mito, Ialdabaó consegue, de alguma forma, roubar o poder divino de sua mãe. E se muda para bem longe dela e usa seu poder para criar outros seres divinos menores – as forças cósmicas malignas do mundo- e o próprio mundo material. Já que é o criador, ele é frequentemente chamado o Demiurgo ( em grego “aquele que faz” ) Ialdabaó é ignorante acerca do reino acima dele, e então declara tolamente : “ Eu sou Deus e não há outro Deus além de mim”. (Is 45:5-6). No entanto, é mostrada a ele e aos auxiliares divinos , que o ajudaram a criar o mundo, uma visão do verdadeiro Deus único; eles, então, declaram entre si : “Criemos um homem à imagem e semelhança de Deus” ( isto é, do verdadeiro Deus que eles tinham acabado de ver ) Gn 2;70. E assim eles fazem Adão. Mas Adão, não tendo nele um espírito, é completamente imóvel. O Deus único e verdadeiro então engana Ialdabaó transportando o poder de sua mãe para essa criatura inanimada, soprando nele o fôlego da vida, dessa forma transmitindo o poder de Sofia para os seres humanos, tornando-os animados e dando-lhes um poder ainda maior do que as forças cósmicas menores que Ialdabaó havia criado. Quando essas forças percebem que o homem criado é maior do que elas, atiram-no no reino da matéria. Entretanto, o Deus único e verdadeiro envia seu próprio Pensamento ao homem, para instruí-lo sobre sua verdadeira natureza divina, sobre o modo como desceu ao reino da matéria e sobre a maneira pela qual ele pode ascender novamente.
Outros mitos tem diferentes formas de descrever a criação do mundo material e a criação dos seres humanos. O que eles compartilham é a noção de que a realidade em que vivemos não foi idéia ou criação do Deus único e verdadeiro, mas o resultado de um desastre cósmico, e que dentro de alguns seres humanos reside uma centelha do divino que precisa ser liberada a fim de retornar a seu verdadeiro lar.
O único modo pelo qual essa salvação pode ocorrer é através do aprendizado, por parte da centelha divina, do conhecimento secreto que pode trazer a libertação de seu enclausuramento no mundo da matéria. O conhecimento, portanto, é central para esses sistemas. Como Jesus indica a seu irmão, Judas Tomé, em um dos tratados de Nag Hammadi :
“ Enquanto me acompanhas, embora não compreendas, na verdade já chegaste a conhecer, e serás chamado ‘aquele que conhece a si mesmo’. Pois aquele que não conhece a si mesmo não conhece nada, mas aquele que conheceu a si mesmo já alcançou, ao mesmo tempo, o conhecimento sobre a profundidade do tudo” ( Livro de Tomé, o Contendor 2.138.14-18).

(Extraído do livro “ Evangelhos Perdidos- de Bart D. Ehrman 185-187-Ed. Record)

(texto original pego de um otimo blog de um companheiro de viagem: http://alsibar.blogspot.com/2011/08/deus-criacao-e-o-homem-segundo-gnose.html)

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

a Vida segundo Jiddu Krishnamurti

A realidade não é o Incriado? Não deve, pois, a mente desistir de criar, de formular, para que possa compreender o Incriado? Não deve a mente-coração ficar absolutamente quieta e silenciosa para conhecer o Real?
No fim de tudo, para compreender a Vida, Deus, o Desconhecido, têm a mente e o coração de estar não preparados, mas sim inseguros. Na vitalidade da insegurança reside o Eterno.
Só pode haver verdadeiramente entendimento, alegria real de viver, quando houver completa unidade, ou quando não mais existir o ponto fixo (Ego, Eu), isto é, quando a mente e o coração puderem acompanhar livres e rápidas as ondulações da Vida, da Verdade.
Compreender a imortalidade, a Vida, é coisa que exige grande inteligência . Isso exige um incessante discernimento que só pode existir quando houver constante penetração, o demolir das paredes da tradição, da religião, da aquisitividade e das reações autoprotetoras do Eu.
Podeis fugir para alguma ilusão a que chamais paz, imortalidade, 'deus', crenças, religião,porém isso não terá realidade. O que, porém, há de libertar a mente e o coração da tristeza e das ilusões é o pleno apercebimento do eterno movimento da Vida. Este só é discernido quando a mente está livre do centro (Eu, Ego), daquele centro de consciência que é limitado.
Assim, aquela realidade imensurável, inominável, que nenhuma palavra tem, aquela realidade só se manifesta quando a mente está toda livre e silenciosa, num estado de criação.
O estado de criação não é um simples estado alcoólico, drogado,estimulado; mas quando uma pessoa compreendeu e passou por esse processo de autoconhecimento, e se acha livre de todas as reações de inveja, ambição e avidez, ver-se-á, então, que a criação é sempre nova e, por conseguinte, sempre destrutiva (nada permanece, tudo é impermanente-não há nada que se possa manter seguro).
No silêncio, na tranqüilidade suprema, detida a incansável atividade da memória, está o Imensurável, o Eterno.
Digo que a Vida é uma só, embora as expressões da Vida sejam múltiplas. A Verdade, que é a vida, nada tem com pessoa alguma nem com organização alguma(Religião, Ordens, Seitas). Não me interessam sociedades, religiões, dogmas; o que me interessa é a Vida, porque eu sou a Vida. Não almejais a Vida e o preenchimento da Vida, que é a Verdade. A vida está a todo momento em um estado de nascença, de surgir, de vir a ser. Nesse surgir, vir a ser por si mesmo, não há continuidade, nada que se possa identificar como sendo permanente. A vida está em constante movimento, em ação; cada momento dessa ação jamais existiu anteriormente e jamais existirá de novo. Cada novo momento, porém, forma uma continuidade de movimento.
Afinal, que é a vida? É uma coisa sempre nova, uma coisa que se está sempre transformando, sempre criando um sentimento novo. Hoje jamais é igual a ontem, e esta é a beleza da vida.
Podemos, vós e eu, enfrentar cada problema de maneira nova? Nunca podereis, se estais carregado das lembranças de ontem. A plenitude da vida só é possível quando a mente-coração estiver integralmente vulnerável ao movimento da vida, sem nenhum obstáculo artificial e autocriado.
A riqueza da vida advém quando a carência, com suas ilusões e valores, tiver cessado. Uni-vos com a vida, e vos unireis com todas as coisas. Se estais enamorado da Vida, então vós vos unireis com a Vida, quer a chameis Buda ou Cristo.
A Vida é livre, incondicionada, ilimitável e, para atingi-la, é preciso não trilhar um caminho qualquer , limitado, restrito (Religião, Crenças, Idéias). Pois a Verdade é o todo e não a parte. A ela não podereis chegar com mentes não adestradas, apenas meio evoluídas, e com semi-evoluídas emoções, pois ela é a perfeita harmonia, o perfeito equilíbrio da mente e do coração, que é a Vida. Quando já houverdes reconhecido essa Lei, que é universal, a Vida una em todas as coisas, então vivereis em verdadeira amizade e afeição a todos. É só na essência criadora da Realidade que se verifica o término do conflito e da aflição. Esse anseio de vir a ser nasce da ignorância, pois o presente é que é o Eterno.
É só na solidão da Realidade que se encontra a plenitude; na chamada criação não há “outro”; só há o Ser único .

Dessa Vida, imortal e livre/ Eu sou a eterna fonte/ Eis a Vida que eu canto.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Felicidade falsa



Alegria e felicidade não são coisas iguais. Normalmente confunde-se ambos estados.
Uma pessoa pode ser alegre, mas esconder um fundo triste. Uma pessoa pode mascarar sorrisos, mas pode conter fundos de tristeza, normalmente refletidos nos olhos, pois é neles que aquele que sabe ler, reconhece o detalhe dessa realidade.
Certa tristeza surge naqueles, mais raros, onde não há ou não se consegue expor-se em comunhão com alguém, pois normalmente as pessoas estão ou são fúteis. Certa tristeza surge naqueles , grande maioria, que se voltam apenas 'as posses.
Há aqueles que continuam a perverter seu interior ,que em muitos pede maior comunhão, naquilo da disputa aprendida desde a educação, pela comparação.
É um tremendo condicionamento.
É o mundo do fortalecer-se, e nesse mundo a base é o " doa a quem doer, pois eu sou mais eu". É o mundo vazio da posse. Não compreendem profundidades porque vivem na superfície. E viver na superfície requer tremendo gasto de energia, para conseguir se manter naquilo que a "propaganda" impõe-se aos outros, ao comum, e 'a sí mesmo.
Essa imagem a sí próprio se impoe , nascida e fortalecida cada vez mais nessa disputa insana entre o que se tem e o que gostaria de possuir. São as coisas de fora que se procura para o preenchimento interno, quando a frieza dos metais, dos plásticos, da borracha, nunca será algo que contenha calor.
Momentos alegres surgem no objeto recem adquirido, mas logo dissipa-se em busca do mais novo objeto de preenchimento.Sabemos de onde emana o calor que se necessita para deixar a frieza, a limitação, o circular apenas no seio familiar ou de amizades - e o resto do mundo não tem qualquer importancia.
Mundo das vaidades. Mundo das poses. Mundo das falsidades. Mundo do ter.
O que vem por trás desse mundo é a destruição das florestas, a destruição de mananciais, a destruição de povos para ocupação das maquinas, a mutilação de animais nas florestas ou nos desertos gelados, a transformação de ambientes antes equilibrados, a supremacia da economia do ter sobre a grande maioria de seres humanos, subjugados pela lei da oferta e procura, pela lei da posse, pela lei da desumanidade contra os alijados do mercado de trabalho, fabricantes de miseraveis apesar de algum "boom' superficial de melhorias, onde alguém sempre paga o preço em todo esse sistema,  quando todos deveriam ter o direito ao trabalho digno para sustento proprio e familiares. E tudo isso em mãos de poucos, daqueles que dominam tudo  e todos.
É muito dificil que num mundo como esse, em nosso atual sistema economico e politico , nichos de rebeldia contra todo esse sistema vingente , vigore e cresça cada vez mais, apesar da boa semente germinada, porque a pressão é imensa.
Teme-se que fatalmente esse mundo será destruído em guerras, coisa refletida em muito maior escala as proprias guerras de relacionamentos , de interiores conflituosos de cada um, porque o sistema privilegia poucos dentre muitos, e os muitos sempre pagarão o preço desses poucos, dentro da tremenda competição.
E ainda há aqueles abutres travestidos em formas religiosas que se alimentam dessa terrivel realidade.
A mudança do pensamento , do sistema, não requer um novo sistema, uma nova regra, uma nova ordem, mas sim e antes de tudo , uma mudança do foco em cada um de nós : do exterior para o proprio interior, em suas reais necessidades para a vida.
E isso pede certa urgencia.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Teste do Tempo


"Tudo que não for verdadeiro não conseguirá suportar o teste do tempo. Nos relacionamentos, nas relações comerciais, nas conexões... somente a verdade permanece no tempo."

Tempo escasso


"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora.
Sinto-me como aquela menina que ganhou uma bacia de jabuticabas.
As primeiras, ela chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.
Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo.
Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos.
Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário geral do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou:

'as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.

Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...

Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.
Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.
O essencial faz a vida valer a pena. "

(Rubens Alves)


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Fundos Negros


Sendo a vida relacionamentos com pessoas, objetos, natureza e ideias, muitas vezes nos deparamos com algumas coisas que batem em nossa porta para percebermos.
É visivel quando em algum relacionamento com alguma pessoa portadora de traumas, um "fundo" psicologico surge durante o convívio.
Atentos para isso, pois sem a atenção não se pode inclusive ajudar um outro a perceber seu proprio entrave, existem talvez tres maneiras para que isso venha a tona.
A primeira seria a propria pessoa perceber isso, consigo mesma, o que convenhamos não é facil pois normalmente as pessoas não estão atentas para seu proprio psicologico.
A segunda maneira seria o outro mostrar 'a pessoa a origem de tais entraves.
Também dificilmente é aceito por algumas razões ilusórias, como por ex. se sentir inferior, se sentir menosprezado, sentir-se odiado, etc, porque é um processo dolorido mesmo e que nessas ilusões exemplificadas promovem novamente fugas, mas que devidamente transcendido, a pessoa se transforma em um ser humano de muito maior capacidade e potencial, frutos nascidos de uma real humildade e simplicidade quando dessa permissão.
A terceira maneira seria a vida sempre bater na cara aquilo onde há o travamento. Normalmente não se aceita o machucado que isso promove e ,assim, ao invés de parar, assimilar, perceber e compreender, volta-se ao caminho oposto , a costumeira fuga. E a vida sempre tocará nesse "ponto frágil" mais cedo ou mais tarde.
Para a fuga que esses entraves promovem, os caminhos são cheios de travessas, onde normalmente se apoiará em algo que muitas vezes tenha sido formatado desde pequeno , como a religião, por ex. , ou qualquer outro escape, como uma simples visita 'as vitrines de um Shopping. Nada contra...
Sempre existirão modos de fugir, e objetos a distrair, porque é assim mesmo que promove o medo desse "fundo negro" .
Sabe-se que muitos desses "fundos negros" nascem desde a infancia num ponto fundamental da criança em seu crescimento: a auto-estima. Seja o que promoveu o não desenvolvimento sadio dessa atuo-estima, como a super-valorização da mesma ( o "tudo pode" criado quando no "tudo consigo" via pais), ou a baixa auto-estima quando algum problema algumas vezes de ordem física teve seu inicio.
Tais entraves, tais "fundos negros" surgem ou explodem na vida adulta, sempre limitando, sempre de alguma forma dolorida, porque é assim mesmo.

sábado, 12 de novembro de 2011

Ciúmes



Consegue fazer da vida dos alvos o inferno, com suas eternas desconfianças, medo de traições, medo de ser abandonado, medo de não continuar merecendo atenção do alvo.
Quem ou o que estiver lá quando o ciumento define seu alvo, é quem é, ou o que será o objeto de sua possessividade, de seu rancor, de suas raivas, de sua agressividade, de seu ódio, de sua manipulação, de sua vingança. Cercam o alvo, destroem o relacionamento.
A vida dos alvos é sempre um inferno de confusões, pois o ciumento é confuso. Mas o ciumento sofre também. Faz sofrer e sofre.É infeliz.
Numa situação que um indivíduo “normótico” ( neologismo) nem se toca, ele vê dragões e perigos. É o rei dos “ E SE?” . Os perigos sempre envolvem perdas, ele tem um medo irracional de perder, muitas vezes o que nem tem, mal julga ter. Cuidado ao usar a palavra Ciúme. Muitos pensam que é apenas um sentimentozinho normal, sem maior importancia, um apego maior a alguem ou a algo. Confunde-se como consequencia do amor. Não é.
É uma das psicopatologia mais * horrorosas * que há, onde o doente sofre e o atingido por ele também, com confusões mils.
Claro, fogem de quem lhes aponta tal defeito. Se tornam incoerentes. Não conseguem firmar-se em qualquer explicação de suas motivações pois sempre as modifica. Evitam ser analizados. E continuarão a viver infelizes.
Se você entender o porquê desse sentimento, seu progresso e amadurecimento emocional levarão a outro patamar. E afinal de contas o que é mais sábio, sair brigando, manipulando ou fugindo de sí e de todo mundo, ou aprender mais sobre você? Qual das respostas você acha madura?

(Texto base da psicanalista Marcia Lee-Smith)

Fugas e resistência 'a análise

Este é um dos aspectos mais conhecidos de todos os psicanalistas. Raramente ocorre que um paciente chegue pronto para se abrir e começar o processo de cura. O caso mais geral é começar por uma sociabilização com o analista, por conversas sobre generalidades, banalidades.Não cabe ao analista forçar o tempo do paciente. Deve deixar que isto ocorra normalmente. É mais que comum que ele diga:
- Sabe que nem sei porque vim aqui? Eu nem tenho problemas.
Em geral eu digo:- Ótimo!
Ou digo apenas um Hmm Hmm mais lacônico.
E é comum também que ele fale:- Posso sair?
E a resposta:- Não tranco a porta.
Na próxima sessão lá está ele, esperando o horário, pensando no que vai acontecer. Nada, a menos que ele queira. Ele não será torturado, não será interrogado. Falará se e quando quiser.Depois de um bom desperdício de tempo e dinheiro, ele resolve contar a vida dele. Ou falar do clima. Ou até perguntar coisas pessoais, onde eu respondo normalmente, a maioria das vezes.Se fala da vida dele, sempre diz que é uma vida normal. Como se alguma coisa normal existisse. Para nós, este conceito inexiste. Não há padrão, logo quem é normal?E aos poucos vai se soltando, diga-se de passagem, até meses... Pode interromper o tratamento, afinal quem o obriga?Mas se ele de fato quiser, vai voltar, ou vai procurar outro profissional, até que num dado momento explode. Só que este momento da explosão não significa cura. É apenas o início.Então teria real começo a terapia do sujeito. E aí começaria a doer. Eu sempre disse que dói. Se não doer não foi análise. É quando ele resiste, como se estivesse protegendo um bem precioso que querem lhe tomar.Esta resistência tem que existir, e é aí que o analista precisa ser cauteloso. É como uma operação de guerra. Como uma cirurgia.Rompida a resistência achamos os reais problemas, os traumas, tudo o que deu origem ao sofrimento do ser. E nesta fase o paciente pode se tornar agressivo e fugir. E pode ser muito agressivo mesmo.Alguns passam a vida fugindo. São os pacientes profissionais. Só chegam até aquele ponto. Aí alegam falta de tempo, de dinheiro, de condições de toda ordem. E abandonam mais uma vez.Fogem...Ou mentem, descaradamente ao analista. Criam histórias mirabolantes. Culpam a família, o cônjuge. Nunca encontraram o profissional adequado. Criam fatos irreais. Tudo é válido para não admitir seus reais problemas.
Eu os chamo de pacientes profissionais.
Deixar expostos os problemas não é processo indolor. Admitir falhas muito menos. Contar segredos, pior. E estes infelizes vão pela vida carregando pedras pesadas que não largam por nada. Um bom motivo para isso? Existe sim. Freud falava nos benefícios secundários da doença, segundo os quais o paciente se exime de trabalhar, de estudar, de fazer qualquer coisa útil, ou assumir seus defeitos,pois afinal ele sempre é a vítima.E o incrível é que estas pessoas sempre acham quem as sustente, quem tenha real compaixão por elas, quem lhes pague tratamento, ou como manipularem outros . Mas não querem a cura. Isto mudaria o status quo.Assim trocam de analista como quem troca de roupa, mal sabendo eles que para quem de fato quer, nem analista seria necessário, mas uma boa dose coragem para viver e um enfrentamento consigo mesmo. (Autoconhecimento)

(texto original da Psicanalista Marcia Lee-Smith )