quinta-feira, 6 de setembro de 2012

a Essência das coisas


A essência de tudo na terra, visível e invisível é espiritual.
Ao penetrar na cidade do invisível, meu corpo está envolto por meu espírito.
Assim quem desligar o corpo do espírito ou o espírito do corpo está desviando seu coração da verdade.
A flor e sua fragrância são uma coisa só; cegos são os que negam a cor e a imagem da flor, dizendo que ela é apenas perfume pairando no ar.
Eles se portam como aqueles deficientes de olfato, para quem as flores são apenas forma e colorido, sem perfume.
Tudo o que existe na natureza existe em ti, e tudo o que tens em ti existe na natureza.
Estás além do alcance das coisas mais próximas e, mais ainda, a distância não te separa das coisas que estão longe de ti.
Todas as coisas, das mais baixas às mais sublimes, das menores às maiores, existem dentro de ti como coisas iguais.
Num átomo, são encontrados todos os elementos da terra. Uma gota d’água contém todos os segredos dos oceanos.
Num momento da mente são encontrados todos os movimentos de todas as leis existentes.

( Khalil Gibran.)

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Ascensão

É no esforço e no trabalho individuais, através de atos instintivos e de vontade, num jogo de poder em todos os níveis e em todas as áreas, numa luta de superação de obstáculos, que faz o homem evoluir.
O homem comum, de massa, é dependente do seu grupo:

 "Ele é em grande parte, controlado pelas compulsões inconscientes dos instintos genéricos, pelas tradições coletivas e pelas emoções de massa... e como tal ele depende, para sua energia e mais ainda para seus motivos e metas, de fatores fundamentais dentro da vida da coletividade humana da qual constitui uma expressão diferenciada." (Rudhyar.) 
A sua vida está apoiada nos seus amigos, na sua corporação, no seu grupo social, na nação com que se identifica. Ele não é um in-divíduo, na verdadeira acepção do termo, ele é ovelha de um rebanho. Na sua inconsciência acha que todos os homens são iguais. Os pontos de apoio de sua personalidade são a fé cega e a segurança psicológica que o grupo oferece. 
"O homem massificado não tem valor; é uma simples partícula que perdeu a sua alma, isto é, o sentido de sua humanidade", afirma C. G. Jung.
O homem-massa é movido pelas paixões, amor e ódio, como magnificamente Padre Antônio Vieira, sintetiza as paixões humanas. A sua consciência é fragmentada, é um arquipélago, na citação de C. G. Jung, pois identifica cada coisa individual e separadamente, sem perceber o conjunto que, por sua vez, está inserido no todo. A sua percepção é dual e assume uma postura unilateral, determinada e dirigida. Num conceito amplo, ele está mergulhado na confusão porque não compreende as coisas do mundo. Ele está com uma verdade que se confunde com a verdade do seu grupo.
O homem comum segue um guia, um líder, uma autoridade, um mestre, um guru, um salvador. A sua religião exige vontade, disciplina, esforço e sacrifício para atingir a redenção ou a "iluminação".
A energia da vontade, entretanto, é naturalmente utilizada e direcionada pelo ego para o seu fortalecimento - querer é poder. A vontade inquebrantável, a disciplina, o esforço e o sacrifício poderão levar o ego à perfeição, mas não levarão o homem à iluminação, à Verdade, à Deus. No
entanto, somente aquele que aperfeiçoou o ego pode perdê-lo e assim, encontrar a sua verdade. Este não será um ato de vontade, mas acontecerá, quando menos esperar, por força da Lei que move a Vida, o Universo. A força da vontade passa agora para o domínio daquelas forças profundas, naturais e involuntárias que governam a vida (Nietzsche). Neste processo há a assimilação da "sombra":

 "A sombra representa, na realidade, o que falta a cada personalidade, ela é, para cada indivíduo, aquilo que ele poderia ter vivido e não viveu. ... Em geral, tomar consciência da sombra provoca conflitos que põem em causa os hábitos, as crenças, os laços afetivos e mais radicalmente os diversos espelhos da consciência de si. A experiência do que foi reprimido ou daquilo que ainda nunca chegou ao consciente desarticula o eu, faz com que perca seus pontos de apoio e mergulhe na obscuridade.
Pela assimilação da sombra, o homem como que assume o seu corpo, o que traz para o foco da consciência toda a sua esfera animal dos instintos, bem como a psique primitiva ou arcaica, que assim não se deixam mais reprimir por meio de ficções e ilusões." (Jung).
O processo de assimilação da sombra promove a ascensão, a saída do rebanho, a libertação dos condicionamentos, o início de uma experiência de vida independente e livre, embora relativa - afinal o homem por mais independente que seja, é escravo do ar que respira. 
Ascender significa elevar-se, aglutinar as ilhas da consciência fragmentada para chegar a percepção do todo.
Ao libertar-se do rebanho o ser humano perceberá que ele é um universo, e é único. Tomar consciência da sua individualidade é acentuar a percepção da sua diferença em relação aos outros e emancipar-se das normas coletivas. As verdades – sempre são subjetivas - dos grandes profetas, gurus, mestres iluminados e de qualquer outro ser humano serão adaptados à sua natureza, à sua individualidade, ao seu tempo e à sua realidade, porque toda verdade é relativa. Enquanto as ovelhas são forçadas a se adaptar à doutrina dos seus guias, o homem que se libertou saberá separar o acessório do principal, as doutrinas de efeitos efêmeros das verdades fundamentais.
A Lei que move o universo não pode ser ensinada porque a sabedoria resulta da vivencia direta. A função dos mestres é despertar as pessoas. As verdades dos grandes mestres representam diretrizes. Elas servem como sinalizações, são setas nos caminhos (Rohden) que cada um deve trilhar individualmente, superando obstáculos e dificuldades porque os caminhos são pessoais, não há duas vidas - duas vias - iguais. Assim como cada pessoa tem uma reação individual perante os acontecimentos da vida, cada um tem uma forma de superar as suas dificuldades. Determinado obstáculo pode ser superado com facilidade por uns e ser uma barreira quase intransponível para outros. O mérito, portanto, não reside na superação objetiva mas no esforço subjetivo. 

Salvadores somente existem na mente de pessoas inconscientes.
O homem que ascendeu está naquele nível de que nos fala Platão: 

"quem faz depender de si mesmo, se não tudo, quase tudo o que contribui para a sua felicidade, e não se prende a outra pessoa, nem se modifica de acordo com o bom ou mau êxito de sua conduta, está, de fato, preparado para a vida; é sábio, na verdadeira acepção do termo, corajoso e temperante."
Entretanto, consciente ou inconscientemente, cada um tem a sua verdade, com a diferença de que o homem comum apega-se a ela como uma coisa certa e definitiva e o sábio continua com a mente e o coração abertos ao novo.

o Mistério Supremo


" O que é o estado supremo da consciência? São Paulo chamou-o de “a paz que está além de todo entendimento” e R.M. Bucke designou-o de “consciência cósmica”. No Zen-budismo, emprega-se o termo satori ou kensho; no yoga, samadhi ou moksha e, no taoísmo, o “Tao Absoluto”. Thomas Merton utilizou, para descrevê-lo, a expressão “inconsciente transcendental”; Abraham Maslow criou o termo “experiência máxima”; os sufis falam de “Fana”. Gurdjieff qualificou-o de Consciência Objetiva”, ao passo que os Quacres chamam-no de “a Luz Interior”. Jung referiu-se à “Individuação”e Bubber falava da “conexão Eu-Tu”. Quaisquer que sejam, porém, os nomes dados a esse fenômeno antigo e bem conhecido — luz, iluminação, libertação, experiência mística —, todos eles dizem respeito a um estado de percepção radicalmente diferente de nossa compreensão comum, de nossa habitual consciência desperta, de nossa mente diária.

Além disso, todos concordam em qualificá-lo como o estado supremo da consciência: uma percepção autotransformadora de nossa união com o Infinito. Está além do tempo e do espaço. Trata-se de uma experiência da infinitude que é a eternidade, da unidade ilimitada com toda a criação. Nossa percepção sensorial do “eu”, socialmente condicionada, despedaça-se e destrói-se devido a uma nova definição da pessoa em si, do eu. Nesta redefinição da pessoa em si, torno-me idêntico a toda humanidade, a toda vida e ao universo. As habituais fronteiras do ego desfazem-se à medida que o ego ultrapassa os limites do corpo e, de súbito, torna-se um com tudo aquilo que existe. O eu torna-se integrado à Alma Superior, tal como Emerson a denominou (e talvez integrado ao que Arthur Clarke, em Childhood’s End, chamou de Mente Superior). O Eu torna-se abnegado, o ego surge como uma ilusão e o jogo do ego chega ao fim. O Maitrayana Upanishad expressa-se deste modo: “Após perceber seu próprio eu como o EU, um homem torna-se abnegado. (…) Este é o mistério supremo.”

John White

  Gerard Dorn, um alquimista do século XVI falava  sobre "principium individuationis" = origem de "individuação" ; Khalil Gibran  fala de um "despertar de algo no fundo dos fundos da alma onde quem o sente não o pode expressar em palavras"