sábado, 22 de junho de 2013

Livre-se da normose!

Diferentes níveis de inconsciência?

"Como você provavelmente sabe, o ser humano se desloca constantemente entre fases do sono em que sonha e que não sonha. Da mesma forma, a maioria das pessoas, quando acordada, se alterna entre a inconsciência comum e a inconsciência profunda. Chamo de inconsciência comum essa identificação com os nossos processos de pensamentos e emoções, nossas reações, desejos e aversões. É o estado normal da maioria das pessoas. Nesse estado, somos governados pela mente e não temos consciência do Ser. Não se trata de um estado de sofrimento agudo ou de infelicidade, mas de um nível baixo e contínuo de desconforto, descontentamento, enfado ou nervosismo, como uma espécie de estática ao fundo. Talvez você não perceba muito bem essa situação porque ela já faz parte da nossa vida “normal”, da mesma forma que você não percebe um barulho contínuo ao fundo, como o zumbido do ar-condicionado, até ele parar. Quando isso acontece de repente, ocorre uma sensação de alívio. Muitas pessoas usam a bebida, as drogas, o sexo, a comida, o trabalho, a televisão, ou até mesmo o ato de fazer compras como anestésicos, em uma tentativa inconsciente para acabar com esse desconforto básico. Quando isso acontece, uma atividade que poderia ser muito agradável, se feita com moderação, passa a ter um componente de compulsão ou dependência, e tudo o que se obtém sob essa influência traz uma sensação de alívio por um período extremamente curto.
A sensação de desconforto da inconsciência comum se transforma no sofrimento da inconsciência profunda, ou seja, um estado de sofrimento ou infelicidade mais agudo e mais perceptível quando as coisas “vão mal”, quando o ego é ameaçado ou quando existe um desafio maior, tal como uma perda real ou imaginária em nossa situação de vida, ou um conflito numa relação. A inconsciência profunda é uma versão ampliada da inconsciência comum, da qual difere na intensidade, mas não na espécie.
Na inconsciência comum, uma resistência habitual ou uma negação daquilo que é cria um desconforto que a maioria das pessoas aceita como algo normal. Quando essa resistência se intensifica através de algum desafio ou ameaça ao ego, faz aflorar uma negatividade intensa que se manifesta sob a forma de raiva, medo profundo, agressão, depressão, etc. A inconsciência profunda significa, com frequência, que o sofrimento começou e que você passou a se identificar com ele. A violência física não aconteceria sem o estado de inconsciência profunda. Ela pode explodir com facilidade quando as pessoas geram um campo coletivo de energia negativa.
O melhor indicador do nível de consciência é a maneira como você lida com os desafios da vida. É através desses desafios que uma pessoa já inconsciente tende a se tornar mais profundamente inconsciente, e uma pessoa consciente a se tornar mais intensamente consciente. Podemos nos valer de um desafio para nos acordar ou para permitir que ele nos empurre para um sono ainda mais profundo. O sonho no nível da inconsciência comum se transforma, então, em pesadelo.
Se você não consegue estar presente mesmo em situações normais, como, por exemplo, quando está sozinho em uma sala, caminhando no campo ou ouvindo alguém, certamente não será capaz de permanecer consciente quando alguma coisa “vai mal”. Será dominado por uma reação, que é sempre, em última análise, alguma forma de medo, e empurrado para uma inconsciência profunda. Esses desafios são os seus testes. Só o modo como você lida com eles lhe mostrará onde você está no que se refere ao seu estado de consciência, e não a quantidade de horas que você consegue ficar sentado com os olhos fechados.
Portanto, é fundamental colocar mais consciência em sua vida durante as situações comuns, quando tudo está correndo de modo relativamente tranquilo. É assim que se aumenta o poder de presença. Ele gera um campo energético de alta frequência vibracional em você e ao seu redor. Nenhuma inconsciência, nenhuma negatividade, nenhuma discórdia ou violência pode penetrar nesse campo e sobreviver, do mesmo modo que a escuridão não consegue sobreviver na presença da luz." 


Dissolvendo a inconsciência comum
Como podemos nos livrar desse desconforto?

"Torne-o consciente. Observe as muitas maneiras pelas quais o desconforto, o descontentamento e a tensão surgem dentro de você, através de julgamentos desnecessários, resistência àquilo que é e negação do Agora. Qualquer coisa inconsciente se dissolve quando a luz da consciência brilha sobre ela. Se soubermos como dissolver a inconsciência comum, a luz da nossa presença irá brilhar intensamente e será muito mais fácil lidarmos com a inconsciência profunda. Mas, no início, talvez não seja muito fácil detectar a inconsciência comum porque a consideramos uma coisa normal.
Habitue-se a monitorar o seu estado mental e emocional através de uma auto-observação. “Estou me sentindo à vontade nesse momento?” é uma pergunta que você deve se fazer com frequência. Ou pode se questionar: “O que está acontecendo dentro de mim neste exato momento?” Mantenha o mesmo nível de interesse pelo que vai tanto no seu interior quanto no exterior. Se você captar corretamente o interior, o exterior se encaixará no lugar. A realidade principal está no interior, a realidade externa é secundária. Mas não responda logo a essas questões. Direcione a sua atenção para o interior. Olhe para dentro de você. Que tipo de pensamentos a sua mente está produzindo? O que você sente? Dirija a atenção para o seu corpo. Existe alguma tensão? Quando você perceber um certo desconforto, um ruído estático ao fundo, verifique que caminhos você está usando para evitar, resistir ou negar a vida, o Agora. Existem muitos caminhos pelos quais resistimos, inconscientemente, ao momento presente. Vou dar alguns exemplos. Com a prática, o seu poder de auto-observação, de monitorar o seu estado interior, se tornará mais aguçado."

- Eckhart Tolle


terça-feira, 11 de junho de 2013

Personalidade


Gritar "eu", "eu",dia e noite, não ajuda a personalidade a se tomar mais rica e mais madura.
Significa uma ênfase exagerada do fator estrutural que existe na personalidade total; mas a estrutura poderá ser muito forte, muito definida e...

VAZIA !
Essa despersonalização é produzido pela ausência de substância na vida da personalidade. Esta substância necessária à alimentação da personalidade não vai ser encontrada por meio de afirmações de auto-obstinação e orgulho do ego. Ela tem de ser colhida através de experiências significativas. Colhida de onde? Da vivência de relacionamentos verdadeiros e vitais — com nossos semelhantes, com a vida profundamente sentida do grupo e da cultura à qual pertencemos, com as forças da natureza (inclusive as forças da natureza humana genérica), com tudo o que vive e se move na Terra e no vasto universo do céu. A experiência significativa de relacionamento — numa forma íntima, estável, perene e concentrada — é a única (e cada vez mais rara atualmente) maneira de desenvolver uma personalidade rica e madura. 
Jung escreveu :


"Ninguém desenvolve a sua personalidade porque alguém lhe disse que seria útil e aconselhável que fizesse isso... Nada sofre uma mudança sem necessidade, muito menos a personalidade humana. Ela é imensamente conservadora, para não dizer inerte. Somente a necessidade mais aguda é capaz de despertá-la... O desenvolvimento da personalidade do seu estado embrionário para a consciência plena é ao mesmo tempo um carisma e uma maldição. Seu primeiro resultado é a separação consciente e inevitável, do ser individual, do rebanho indiferenciado e inconsciente. Isto significa isolamento, e não há palavra mais confortante para isso... Também significa fidelidade a lei do nosso ser... a menos que o indivíduo escolha o seu caminho conscientemente e com decisão moral consciente, a personalidade jamais poderá desenvolver-se... A verdadeira personalidade sempre tem vocação e acredita nela, é fiel a ela como é fiel a Deus, a despeito do fato de que é apenas, como diria o homem comum, um sentimento de vocação individual. Esta vocação, porém, age como uma lei de Deus, da qual não há meio de fugir. O fato de que muitos se arruínam seguindo seus próprios caminhos não significa nada para aquele que tem vocação. Ter vocação quer dizer, no sentido original, ouvir uma voz que lhe fala..."

- Personalidade é algo muito sério ! Nada tem a ver com o "bater o pé firme no que quero"- egoismo profundo. Engana-se completamente quem acha provido de Personalidade antes dos 40 anos, próximos, pois além de poucos se preocupam em desenvolverem , seu início coincide com uma fase mais madura do ser . É  um "algo interior" , a "voz interior"  que a Personalidade segue e se fortalece.




domingo, 9 de junho de 2013

Morrer

" Qual a natureza desse "malcheiroso pedaço" de egoísmo ou personalidade, que tem de se arrepender tão apaixonadamente e tão completamente morrer antes que possa haver um verdadeiro conhecimento de Deus na pureza do espírito? A mais seca e cautelosa das hipóteses é a de Hume. "A humanidade", diz ele, "nada mais é que um feixe ou conglomerado de diferentes percepções, que se sucedem umas às outras com uma rapidez inconcebível, e estão em perpétuo fluxo e movimento". Uma resposta quase idêntica foi dada pelos budistas, cuja doutrina de anatta é a negação de qualquer alma permanente, existente atrás do fluxo da experiência e das várias skandhas psicofísicas (em íntima correspondência com os "feixes" de Hume), que constituem os mais perduráveis elementos da personalidade. Hume e os budistas dão uma descrição suficientemente realista do egoísmo em ação; mas não explicam como e por que os feixes se tornaram feixes. Porventura os seus átomos constitutivos da experiência ajuntaram-se de comum acordo? E, se assim for, por que e por que meios e dentro de que espécie de universo não espacial? Dar uma resposta plausível a estas questões, em termos de anatta, é tão difícil que fomos forçados a abandonar a doutrina em favor da noção de que, atrás do fluxo e dentro dos feixes, existe uma espécie de alma permanente, através da qual a experiência é organizada e que, em troca, faz uso dessa experiência organizada para se tornar uma criatura particular e uma personalidade única. Este é o ponto de vista do hinduísmo ortodoxo, do qual o Budismo compartilhou, bem como todo o pensamento europeu desde a época anterior a Aristóteles até os dias atuais. Considerando que a maioria dos pensadores contemporâneos tentam descrever a natureza humana em termos de uma dicotomia resultante da interação da psique e do físico, ou uma inseparável totalidade desses dois elementos dentro de seres particulares corporificados, todos os expoentes da Filosofia Perene fazem, de uma ou outra forma, a afirmação de que o homem é uma espécie de trindade composta de corpo, psique e espírito. O egoísmo ou personalidade é um produto dos dois primeiros elementos. O terceiro elemento (aquele quidquid increatum et increabile, como Eckhart o chamava) é semelhante, ou mesmo idêntico ao espírito divino que é a Base de todos os seres. A finalidade última do homem, a finalidade da sua existência, é amar, conhecer e unir-se à Divindade imanente e transcendente. E essa identificação do ser com um não-ser espiritual só pode ser alcançada "morrendo" para o egoísmo e vivendo para o espírito. "

- Aldous Huxley

sábado, 1 de junho de 2013

Teseu e o Minotauro


Toda vida contém uma descida aos infernos. O labirinto é uma representação clássica do mundo infernal (o rei Minos era juiz dos infernos), mas também da matriz. Como sair do labirinto? Como retornar do país dos mortos? Como ressuscitar? Como renascer?
Como nascer?
Teseu, como todos os heróis, combate o monstro antes de unir-se à princesa. A princesa, ou Ariadne, é seu lado feminino, sua anima, sua parte emotiva e terna. Foi porque se uniu à sua parte feminina por um fio, porque se uniu consigo mesmo que Teseu pôde vencer seu medo (o Minotauro) e tornar-se livre (sair do labirinto). Ele está suficientemente seguro de sua identidade sexual para aceitar seu lado feminino.
É a energia da união consigo, do encontro consigo mesmo (o fio que une Ariadne a Teseu) que lhe permite tornar-se livre. Tornar-se livre, tornar-se uno e vencer o próprio medo são a mesma e única coisa . Ariadne, como todas as companheiras dos heróis, libera seu lado masculino, sua força e coragem.
O herói que libera a princesa aprisionada emancipa seu próprio lado feminino.
O dragão é sempre o medo, o medo de ser si mesmo... ou de deixar de sê-lo se nos liberarmos.
O argumento que se apodera de nosso ser e no qual nos aprisionamos:
eis o nosso dragão. Enfrentar o dragão é reencontrar a situação, exatamente a situação em que a armadilha se acomodou.
Retornar ao instante da queda, ao lugar onde perdemos a liberdade. A frase que nos condenou. A idade em que perdemos a visão. Devemos reencontrar esse instante de que queremos fugir com todas as nossas forças. E uma vez lá, será preciso reviver o nosso papel, mas, desta vez, saindo da armadilha por cima. Se o acontecimento original tiver provocado o medo ou o orgulho, devemos nos desprender com plenitude ou humildade. Sair com inocência se tiver sido a culpa a origem da situação.
Herói, princesa e dragão são a mesma e única pessoa.

( o Fogo Liberador )