sexta-feira, 27 de maio de 2011

A Divina Comédia




Inferno- Quando Dante se encontra no meio da vida, ele se vê perdido em uma floresta escura, e sua vida havia deixado de seguir o caminho certo. Ao tentar escapar da selva, ele encontra uma montanha que pode ser a sua salvação, mas é logo impedido de subir por três feras: um leopardo, um leão e uma loba. Prestes a desistir e voltar para a selva, Dante é surpreendido pelo espírito de Virgílio - poeta da antigüidade que ele admira - disposto a guiá-lo por um caminho alternativo. Virgílio foi chamado por Beatriz, paixão da infância de Dante, que o viu em apuros e decidiu ajudá-lo. Ela desceu do céu e foi buscar Virgílio no Limbo. O caminho proposto por Virgílio consiste em fazer uma viagem pelo centro da terra. Iniciando nos portais do inferno, atravessariam o mundo subterrâneo até chegar aos pés do monte do purgatório. Dali, Virgílio guiaria Dante até as portas do céu. Dante então decide seguir Virgílio que o guia e protege por toda a longa jornada através dos nove círculos do inferno, mostrando-lhe onde são expurgados os diferentes pecados, o sofrimento dos condenados, os rios infernais, suas cidades, monstros e demônios, até chegar ao centro da terra, onde vive Lúcifer. Passando por Lúcifer, conseguem escapar do inferno por um caminho subterrâneo que leva ao outro lado da terra, e assim voltar a ver o céu e as estrelas.

Purgatório- Saindo do inferno, Dante e Virgílio se vêem diante de uma altíssima montanha: o Purgatório. A montanha é tão alta que ultrapassa a esfera do ar e penetra na esfera do fogo chegando a alcançar o céu. Na base da montanha encontram o ante-purgatório, onde aqueles que se arrependeram tardiamente dos seus pecados aguardam a oportunidade para entrar no purgatório propriamente dito. Depois de passar pelos dois níveis do ante-purgatório, os poetas atravessam um portal e iniciam sua nova odisséia, desta vez subindo cada vez mais. Passam por sete terraços, cada um mais alto que o outro, onde são expurgados cada um dos sete pecados capitais. No último círculo do purgatório, Dante se despede de Virgílio e segue acompanhado por um anjo que o leva através de um fogo que separa o purgatório do paraíso terrestre. Finalmente, às margens do rio Letes, Dante encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa prosseguir viagem e subir às estrelas.

Paraíso- O Paraíso de Dante é dividido em duas partes: uma material e uma espiritual (onde não há matéria). A parte material segue o modelo cosmológico de Ptolomeu e consiste de nove círculos formados pelos sete planetas (Lua, Mercúrio, Vênus, Sol, Marte, Júpiter e Saturno), o céu das erelas fixas e o Primum Mobile - o céu cristalino e último círculo da matéria. Ainda no paraíso terrestre, Beatriz olha fixamente para o sol e Dante a acompanha até que ambos começam a elevar-se, transumanando. Guiado por Beatriz, Dante passa pelos vários céus do paraíso e encontra personagens como São Tomás de Aquino e o imperador Justiniano. Chegando ao céu de estrelas fixas, ele é interrogado pelos santos sobre suas posições filosóficas e religiosas. Depois do interrogatório, recebe permissão para prosseguir. No céu cristalino Dante adquire uma nova capacidade visual, e passa a ter visão para compreender o mundo espiritual, onde ele encontra nove círculos angélicos, concêntricos, que giram em volta de Deus. Lá, ao receber a visão da Rosa Mística, se separa de Beatriz e tem a oportunidade de sentir o amor divino que emana diretamente de Deus, o amor que move o Sol e as outras estrelas.

terça-feira, 24 de maio de 2011

o Mito do amor romântico


No mito romântico, o amor é a força misteriosa que surge do nada e nos traz felicidade. A incrível porcentagem de 95% de todas as referências ao amor feitas pela mídia moderna baseia-se na promessa de relacionamentos românticos e nos problemas deles derivados. Na visão de Hollywood, os apaixonados são jovens, lindos e predestinados uns aos outros, apesar de precisarem passar por muitas adversidades antes de conseguirem a feliz realização de seu amor.

Origem
A obsessão moderna pelo amor romântico pode nos levar a crer que as coisas essenciais da vida sempre foram um beijo, um suspiro e um toque da “velha magia chamada amor”. Mas o mundo nem sempre reverenciou dois amantes dessa maneira cinematográfica. O amor romântico tem sido a exceção, e não a regra. Na maioria das sociedades pré-modernas, os casamentos foram “arranjados” por motivos práticos e políticos. Foram os cavaleiros e trovadores da Idade Média que inventaram o código medieval de conduta para namorados e idealizaram o romance, mas exclusivamente para a elite. O romance para as grandes massas surgiu com o nascimento do capitalismo e do individualismo, alcançando um nível febril entre consumidores modernos de novelas e revistas que versam sobre o amor falso e verdadeiro, cheias de receitas rápidas para a intimidade e conselhos para os perdidamente apaixonados. A necessidade de novidades relacionadas ao reino de Afrodite é constante e insaciável. Pesquisas de opinião, questionários e indagações intermináveis sobre nossos hábitos eróticos estimulam a crença questionável que temos de estar aprendendo novas técnicas e progredindo no jogo do amor.

Impacto
Nossa fixação míope por romance e sexo encoraja uma teoria de "atração fatal", que nos transforma em vítimas que "se apaixonam" e “se desapaixonam” em razão de química ou que não conseguem se apaixonar em virtude de má sorte, abuso sofrido na infância ou famílias desestruturadas. Isso estimula a crença vã de que um relâmpago erótico vai nos atingir diretamente vindo dos céus e, espontaneamente, enriquecer e dar sentido às nossas vidas.

Apesar do profundamente enraizado desejo ardente por romance, quase toda a nossa energia é devotada no sentido de conseguir sucesso, prestígio, dinheiro e poder, e quase nenhuma no de aprender a arte de amar. Quando limitamos nossa busca por amor a uma ligação de somente duas pessoas negligenciamos o âmbito maior no qual precisamos praticar o amor – a família, a vizinhança, o meio-ambiente, a natureza, a comunidade de seres não-humanos sensíveis que incluem pássaros e feras.

O erro das teorias modernas sobre o amor é se dedicar exclusivamente a dois seres individuais solitários que se unem para formar uma ilha em um mar hostil povoado de outros seres anônimos e de vizinhos desconhecidos. A maioria das teorias pré-modernas considera o amor como um elixir que gradualmente dissolve as fronteiras que erigimos entre nosso próprio ser e os outros, progressivamente impulsionando o ego para além do individualismo e do santuário da intimidade, na direção de uma comunidade cada vez mais inclusiva.

A conseqüência mais séria gerada por nossas preocupações com o jogo de achar nossos pares é nos mantermos sempre voltados especificamente para a pergunta errada. Se eu perguntar "como posso encontrar meu amor verdadeiro" antes de perguntar "como posso me tornar uma pessoa carinhosa?" não vou conseguir adquirir as qualificações necessárias para me tornar um ser humano carinhoso – capacidade de ouvir, de ter empatia, de sentir compaixão, de cuidar do próximo, de ter comprometimento, etc. O amor é uma arte que precisa ser desenvolvida e praticada por toda a vida.

(Extraído de um texto do Filósofo Sam Keen em www.yubliss.com )

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Nietzsche e Judeus


(...)Diga-se de passagem que o problema dos judeus existe apenas no interior dos Estados nacionais, na medida em que neles a sua energia e superior inteligência, o seu capital de espírito e de vontade, acumulado de geração em geração em prolongada escola de sofrimento, devem preponderar numa escala que desperta inveja e ódio, de modo que em quase todas as nações de hoje – e tanto mais quanto mais nacionalista é a pose que adotam – aumenta a grosseria literária (*) de conduzir os judeus ao matadouro, como bodes expiatórios de todos os males públicos e particulares. Quando a questão não for mais conservar as nações, mas criar uma raça européia mista que seja a mais vigorosa possível, o judeu será um ingrediente tão útil e desejável quanto qualquer outro vestígio nacional. Características desagradáveis, e mesmo perigosas, toda nação, todo indivíduo tem: é cruel exigir que o judeu constitua exceção. Nele essas características podem até ser particularmente perigosas e assustadoras; e talvez o jovem especulador da Bolsa judeu seja a invenção mais repugnante da espécie humana. Apesar disso gostaria de saber o quanto, num balanço geral, devemos relevar num povo que, não sem a culpa de todos nós, teve a mais sofrida história entre todos os povos, e ao qual devemos o mais nobre dos homens (Cristo), o mais puro dos sábios (Spinoza), o mais poderoso dos livros e a lei moral mais eficaz do mundo. E além disso: nos tempos mais sombrios da Idade Média, quando as nuvens asiáticas pesavam sobre a Europa foram os livres-pensadores, eruditos e médicos judeus que, nas mais duras condições pessoais, mantiveram firme a bandeira das Luzes e da independência intelectual, defendendo a Europa contra a Ásia (...)

* Nota do tradutor: “grosseria literária”: litterarische Unart. Nietzsche está se referindo às manifestações de anti-semitismo na imprensa e na literatura da época.

Humano, demasiado humano foi publicado em 1878


segunda-feira, 2 de maio de 2011

o Amor


"Quando o amor vos chamar, segui-o,
Embora seus caminhos sejam agrestes e escarpados;
E quando ele vos envolver com suas asas, cedei-lhe,
Embora a espada oculta na sua plumagem possa ferir-vos;
E quando ele vos falar, acreditai nele,
Embora sua voz possa despedaçar vossos sonhos
Como o vento devasta o jardim.
Pois, da mesma forma que o amor vos coroa,
Assim ele vos crucifica.
E da mesma forma que contribui para vosso crescimento,
Trabalha para vossa queda.
E da mesma forma que alcança vossa altura
E acaricia vossos ramos mais tenros que se embalam ao sol,
Assim também desce até vossas raízes
E as sacode no seu apego à terra.
Como feixes de trigo, ele vos aperta junto ao seu coração.
Ele vos debulha para expor vossa nudez.
Ele vos peneira para libertar-vos das palhas.
Ele vos mói até a extrema brancura.
Ele vos amassa até que vos torneis maleáveis.
Então, ele vos leva ao fogo sagrado e vos transforma
No pão místico do banquete divino."


Khalil Gibran