terça-feira, 28 de setembro de 2010

"Para lugar nenhum"

Escondida entre as montanhas, num país distante, existia uma aldeia. À entrada da aldeia haviam três estradas e, no local onde elas se separavam, três avisos diziam: "PARA O MAR", "PARA A CIDADE" , e o terceiro: "PARA LUGAR NENHUM". Até onde se podia lembrar, as pessoas só tinham viajado pelas duas primeiras estradas. Ninguém ousava seguir a estrada que levava a "Lugar nenhum". Ela permaneceu deserta e não trilhada.

Jane, uma menina da aldeia, não se cansava de fazer os outros habitantes a mesma pergunta: - Para onde vai a estrada que vai a lugar nenhum? E ela recebia invariavelmente a mesma resposta: - A lugar nenhum.

As pessoas temiam pela segurança da menina e diziam:- Nunca siga essa estrada. é muito perigosa. Ninguém jamais teve coragem de percorrê-la. Mas Jane pensou com seus botões que, se há uma estrada, ela deve levar a algum lugar. Um dia Jane fugiu da aldeia e, cuidando para que não a vissem, pegou a estrada proibida. Andou por um longo caminho, atravessando colinas e vales, passando por riachos e quedas d'água, florestas e desertos. E continuou em frente, até que começou a acreditar que os aldeões deviam estar certos. A estrada, de fato, não levava a lugar algum.

Até que um dia ela avistou um cão e disse a si mesma: - Se há um cachorro, deve haver uma casa ou pelo menos alguém por perto. Com um misto de medo e esperança, pôs-se a seguir o cachorro. Ele a conduziu por um caminho que dava numa casa escondida no meio de um bosquezinho frondoso. Uma senhora de idade morava na casa.

- Venha, minha pequena - convidou a senhora - venha para minha casa onde há muitos anos não recebo ninguém. Mostrou a Jane sua mansão repleta de tesouros preciosos.

- Você pode levar o que quiser. Tudo que possuo é seu, basta você querer. É a sua recompensa por ter tido coragem de ter trilhado a estrada que levava a lugar nenhum. Carregada de ouro e jóias, Jane se despediu da boa senhora.

Nesse meio tempo, os aldeões suspeitaram que Jane lhes havia desobedecido e tomado a estrada proibida. Ansiosos e nervosos, estavam convencidos que algo terrível havia acontecido. Por isso ficaram surpresos ao vê-la se aproximando, vinda daquela estrada, carregando seu precioso tesouro. Com toda a confiança, contou-lhes a verdade sobre sua viagem, e eles a escutaram maravilhados e espantados.

Logo havia uma torrente de aldeões viajando na estrada que levava a lugar nenhum. Caminharam durante dias e noites, mas não chegaram a lugar nenhum. Não encontraram nem o cão, nem a casa nem a boa senhora. Voltaram para a aldeia amargurados e desapontados, xingando Jane e acusando-a de mentirosa e impostora.

Jane balançou a cabeça e disse calmamente:

- É verdade que há um tesouro por descobrir, mas só para aqueles que ousam seguir uma estrada que leva a lugar nenhum.

(autoria desconhecida)

domingo, 26 de setembro de 2010

Seriedade


Confunde-se seriedade com situações na qual a pessoa ache ou não engraçado.
Quando da auto-observação, com certeza há respeito ao ser-humano que o impede em rir da desgraça alheia, mas isso não implica em não sorrir para coisas engraçadas, mesmo em situações na qual o outro esteja atrapalhado.
A seriedade implica nas observações de sí mesmo, em seus pensamentos e emoções geradas pelo ridículo que muitos desses nos apresentam, ou que nos permitiram surgir, porque nem todos os seres humanos estão no mesmo grau de conscientização de seus "humores" - no sentido de amadurecimento de seus pensamentos, motivos, sentimentos e emoções próprias, de sí mesmo. E isso nunca implicou inclusive que a tais valores ou condições que a pessoa encaixou em si mesma, seja o outro obrigado a seguir - pois isso é uma auto-imagem criada, e se caso o outro não vibre nessa condição na qual se colocou, será esse ferido em sua imagem, em seu orgulho que em sí mesmo condicionou tal imagem criada; haverá conflitos e confusões de todas as espécies.
Ser sério implica em observar-se nas relações com o outro, seja pessoa, objeto, natureza: quais motivos, sejam esses os mais difíceis ou mais ocultos que estejam na relação.
Onde se possa PERCEBER de fato onde e o como estaria contribuindo ou não para que o conflito se instaure, ou exista. E isso não é exigencia nem regra a seguir, mas sim apenas um estado atento na qual a pessoa deixe fluir.
Pois nada no Universo é permanente, tudo se apresenta sempre novo, e não podemos continuar a nos apegar a situações ou coisas passadas, mortas, inseridas apenas na memória.
E isso é o que é realmente viver a vida no presente.

Dualismo


"Hoje não podeis ver e nem ouvir, e é melhor assim. Mas um dia, o véu que cobre os vossos olhos será retirado pelas mãos que o teceram, e a argila que obstrui os vossos ouvidos será retirada pelos dedos que a amassaram. Então vereis, então ouvireis. E não deplorareis ter conhecido a cegueira e a surdez, pois,naquele dia, conhecereis a finalidade oculta de todas as coisas e bendireis as trevas como bendireis a luz"

Khalil Gibran

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sabedoria

e Rebeldia.
Sabedoria é algo que se adquire pelo amadurecimento.
Todo nosso aprendizado necessita do tempo para tornar-se um conhecimento, um saber. Um curso superior pode demandar cinco, seis anos, não pelo volume de conhecimentos necessários à sua conclusão mas porque o aprendizado precisa sedimentar-se.
Isto, entretanto, não significa que toda pessoa com determinada idade seja um sábio. A sabedoria é um dom que poucos desenvolvem.
Inequivocamente a sabedoria nasce da experiência. Entretanto, a experiência nada representa sem o conhecimento. O sol nasce no leste e se põe no oeste. Para os nossos sentidos, indiscutivelmente, o sol gira em volta da terra. O estudo e a pesquisa vão-nos mostrar que esta é uma ilusão, o sol está fixo, é a terra que gira em torno do sol.
Quantas outras ilusões os nossos sentidos nos mostram e nós aceitamos como realidades. Nós percebemos, devido às limitações dos nossos sentidos, apenas algumas dimensões da nossa realidade. É a consciência desta realidade que se amplia pela sabedoria.
A vida é um eterno aprendizado e para isso, precisamos manter o intelecto e o coração abertos ao novo. A harmonia entre mente e coração, entre a razão e sentimento é um dos segredos que levam à sabedoria. O comportamento rebelde, segundo socialmente nos propõem, é uma agressão à harmonia, inclusive universal segundo muitos espiritualistas.
Pois eu afirmo o contrário: a rebeldia é indispensável ao desenvolvimento da consciência e dos valores éticos.
É famosa a parábola de Jesus sobre a ovelha desgarrada:
"Se alguém tiver cem ovelhas, e uma delas se desgarrar, porventura não deixa as outras noventa e nove nos montes e vai em busca daquela que se desgarrou? E, se acontece encontrá-la, digo-vos em verdade que se alegra mais por esta, do que pelas noventa e nove que não se desgarraram."
Somente o pecador é capaz de tornar-se santo. Somente quem elevou o ego ao seu grau máximo pode perdê-lo. Somente quem elevou o orgulho ao seu ápice pode tornar-se humilde. Somente quem passou pelo inferno pode chegar ao céu. O rebelde, o pecador, a ovelha desgarrada é "procurada por Deus".
O que nos mostra tal parábola ?
Deus irá preocupar-se com as restantes noventa e nove? São um rebanho, não tem vontade própria, apáticas vegetam na sua mediocridade. Mas Deus vai atrás da ovelha desgarrada, diferente, corajosa, audaciosa, rebelde. Quando a encontrar ele a levará festivamente nos ombros e haverá mais júbilo nos céus por causa desta única ovelha do que por todo o rebanho apático que somente lhe sabe dizer "Amém!".
Rebeldia é não aceitar autoridades e construir a sua própria verdade. Rebeldia significa buscar a Liberdade. Todo rebelde é um guerreiro e na luta contra as trevas da ignorância e das ilusões ele emergirá triunfante. A rebeldia enseja desenvolver o nosso mundo, a nossa consciência. O inconformismo contra a realidade em que vivemos e a necessidade de procurar soluções para os problemas pessoais e sociais são promovidas por rebeldes. O rebelde é um agente de transformação.
Rebeldia é a qualidade de um sábio.