terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Forasteiro


"Neste mundo, sou um forasteiro, um estranho... Sou um desconhecido dos meus parentes e amigos; quando com um deles me encontro, por acaso pergunto a mim mesmo: "Quem será esse? Onde e como o conheci? Qual o determinismo estranho que nos aproxima e nos faz falar?" Sou estranho à minha própria alma: por isso, quando a minha língua fala, não sei se ouço a minha própria voz. Sou estranho ao meu corpo. Quando diante do espelho, observo em mim como que expressões que não correspondem ao meu íntimo sentir, e vejo, no fundo das minhas pupilas, imagens que não traduzem, de modo algum, o que está na minha alma. Neste mundo, eu sou um forasteiro. Não existe quem compreenda uma palavra, ao menos, da linguagem da minha alma. Eu sou um estrangeiro neste mundo. Sou o poeta que, de passagem pela vida, canta em seus versos o que ela possui de mais profundo, harmonioso e belo. Eu sou um estrangeiro, e sempre serei um estrangeiro para mim, até que a morte me leve e me faça voltar à minha verdadeira pátria."

(Gibran Kahlil Gibran).

Místico do Ser


"a liberdade de espírito ao preço da mais sangrenta autovivissecção, assistindo e apressando o crepúsculo de todos os ídolos em cujos altares outrora imolara"
"desse isolamento doentio, do deserto desses anos de ensaio, o caminho ainda é longo até aquela descomunal segurança e saúde transbordante ... até aquela madura liberdade de espírito que é também autodomínio e disciplina do coração e permite os caminhos para muitos e opostos modos de pensar" .....
"Ele olha com gratidão para trás - grato a sua andança, a sua dureza e a seu estranhamento de si, a seu olhar a distância e a seu vôo de pássaro em frias altitudes. Que bom que ele não permaneceu, como alguém delicado, embotado, que fica em seu canto, sempre, "em casa", sempre "junto de si"! Ele estava fora de si: não há dúvida nenhuma. Somente vê a si mesmo - e que surpresas encontra nisso! Que arrepio nunca provado! ... ".
(Labirintos da Alma: Nietzsche e a auto-supressão da moral -Giacoia Júnior, Osvaldo)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Direito à Individualidade


Qualquer um que não saiba como controlar o seu eu mais íntimo, se conformará
em controlar a vontade do seu vizinho. (Goethe.)


O respeito à individualidade é um valor ético nem sempre
compreendido e praticado, principalmente porque, a vontade de poder controlar a vida do seu semelhante é inerente à natureza humana. O direito à igualdade, embora na prática, seja apenas um ideal, é uma das maiores conquistas da nossa civilização. Este direito, entretanto, que pretende proteger os mais fracos, nega, de certa forma, o direito à individualidade, ou seja, à diferença.

“Só podemos dizer que os indivíduos são iguais na medida em que êles são amplamente inconscientes, isto é, inconscientes de suas diferenças reais. Quanto mais uma pessoa é inconsciente, tanto mais ela se conforma aos cânones do comportamento psíquico. Mas, quanto mais ela toma consciência de sua individualidade, tanto mais acentuada se torna sua diferença com relação a outros indivíduos e tanto menos corresponderá ela à expectativa comum."(Jung- ANatureza da Psiqué).

As diferenças individuais que se revelam pelo desenvolvimento da consciência não são compreendidas pelo homem comum. A diferença de níveis de consciência dificulta a comunicação. A pessoa, ao adotar valores éticos, em substituição às normas morais vigentes do seu grupo social, torna-se diferente e portanto, passa a ser tratada com preconceito e é marginalizada.
“Na verdade, para a maioria, a fim de que um ponto de vista seja válido, precisa colher o maior número possível de aplausos, independentemente dos argumentos apresentados em seu favor. “Verdadeiro” e “válido” é aquilo em que a maioria crê, pois confirma a igualdade de todos. Mas para uma consciência diferenciada já não é mais de todo evidente que sua própria concepção se aplique aos outros, e vice-versa.”(Jung - A Natureza da Psiqué) .

Saber-se igual aos outros dá segurança psicológica, fortalece o ego, aumenta a auto-estima. O uniforme que a criança usa desde o Jardim de Infância nada mais é do que a obsessão, muitas vêzes inconsciente, de pais e mestres em impor uma igualdade que não existe no ser humano. É com base na igualdade que é identificado o ser humano “normal”.
“Ser normal é talvez a coisa mais útil e conveniente com que podemos sonhar; mas a noção de “ser humano normal”, tal como o conceito de adaptação, implica limitar-se à média. ...
Ser “normal” é o ideal dos que não têm êxito, de todos os que ainda se encontram abaixo do nível geral de adaptação. Mas para as pessoas dotadas de capacidade acima da média, que não encontram qualquer dificuldade em alcançar êxitos e em realizar a sua quota-parte de trabalho no mundo, para estas pessoas a compulsão moral a não serem nada senão normais significa o leito de Procusto: mortal e insuportavelmente fastidioso, um inferno de esterilidade e de desespero.” (Fordham - Introdução a Psicologia de Jung).

Ser normal, é ser igual aos demais. É a confirmação da igualdade. Ser diferente é, portanto, anormal, doentio. O diferente precisa ser “tratado” para que volte a ser igual aos demais. É assim que o ser humano mediano julga o seu semelhante. Se o direito à igualdade dentro do grupo social tem os seus méritos, ela também gera preconceitos e discriminação contra o diferente, seja pela condição social, convicções, hábitos, preferências sexuais, etc.
O preconceito e a discriminação sempre existiram e vão continuar existindo porque é muito difícil e demorada a mudança de consciência do ser humano. Assim como se lutou arduamente, por séculos, pelo direito à igualdade, deve-se combater, agora, num nível superior, pelo direito à diferença. O mesmo orgulho sadio que ostenta aquele que se identifica como homem de massa, deve poder mostrar aquele que é diferente em sua natureza, em sua individualidade.
O direito à individualidade, à diferença, é de certa forma uma utopia. O homem inconsciente tem uma compulsão em dominar o outro. Mas toda forma de poder é verdadeira inimiga da ordem. Toda ordem ou imposição contraria aquilo que é, por si só, um elemento intrínseco à natureza humana. Por que dominar o outro? É querer formá-lo à nossa imagem e semelhança.
O sonho e o ideal do homem comum é uma sociedade igualitária em que são suprimidas todas as diferenças. O senso comum é essa força que também chamamos de democracia, regime de governo indispensável para organizar uma sociedade de indivíduos inconscientes.
O sonho daqueles que estão acima da média do nível geral de adaptação, daqueles que têm um maior nível de consciência da realidade, daqueles que já ultrapassaram o nível de confusão do "caçador” – presente em todas as mitologias -, que mata as coisas do mundo porque não as ama e não as ama porque não as compreende, daqueles que não sentem a necessidade de governo
político e religioso devem conformar-se em ser apenas diferentes.
Uma sociedade fundada na solidariedade e na liberdade ainda é uma utopia
.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Fogos de Artifício




Hoje o silencio é forte na cidade grande. Muitos se foram, antes, bem antes , 'as estradas rumo a tradição da esperança em um novo ano - o "que tudo se realize". Voltarão, e continuarão normalmente com os mesmos pensamentos, as mesmas atitudes, a mesma vida, que talvez a grande maioria tentou esquecer na virada do ano. O advogado continuará sua consciencia particular de grupo : o grupo dos advogados , com sua astúcia, estudos e conhecimento das leis. A dona de casa também continuará em seu grupo. O professor, o carpinteiro, todos continuarão em suas respectivas consciencia de grupo. Não diferimos de animais que também tem sua própria consciencia de grupo . O lobo, o leão, o gato...


O medo, o prazer, a crença, a inveja, a depressão e a solidão, todas essas coisas que fazem parte de nossa consciencia, não difere da consciencia de outros grupos distantes milhares de quilometros, sejam eles comunistas ou democratas , cristãos ou muçulmanos, alemães ou brasileiros, civilizados ou aborígenes. Um é contra o comunismo, o outro contrário ao cristão, e continuamos a repetir , sempre essas mesmas condições.


É duro aceitar isso, que temos uma consciencia comum ao restante da humanidade, até porque a maioria tem a crença de que algo de individual sobreviverá após a morte, mas que não se aceita que tudo isso é "programação" - programados para pensar que temos algo separado do restante da humanidade. Isso promove a continuidade do mesmo padrão , repetindo ano após ano, a mesma esperança ao findar cada um, extasiados 'a fogos de artifício...