segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Perene

Sentes que o mundo terreno é triste,
Mas tal tristeza chorar não devias;
Não digas que é mau o mundo que existe…
Pois a toda sombra a hora final soa
E é infinda a alegria oculta nas coisas;
A vida é às vezes dura, mas a alma voa.
Contempla a dupla face da existência:
De um lado está o ferro, mas do outro o ouro vive.
Devias ver a felicidade que é tua essência,
E então saberias: Deus a fez pura e livre.


(Frithjof Schuon)


“A imagem do homem que nos oferece a psicologia moderna não é somente fragmentária, ela é miserável. Na realidade, o homem está como que suspenso entre a animalidade e a divindade; ora, o pensamento moderno, seja filosófico ou científico, na prática só admite a animalidade.”
“Queremos, ao contrário, corrigir e aperfeiçoar a imagem do homem insistindo em sua divindade; não que queiramos fazer dele um deus, quod absit; buscamos simplesmente dar conta de sua verdadeira natureza, que supera o terrestre e sem a qual ele não tem razão de ser.”
“É isto que acreditamos poder chamar, numa linguagem simbolista, a 'transfiguração do homem'.”

- Extratos do livro " A transfiguração do Homem"
- Frithjof Schuon ( Filosofia Perene (Metafisica Antiga) )




"O Infinito ou o Mundo do Absoluto que concebemos como estando fora de nós é, ao contrário, universal e existe tanto dentro de nós como fora. Existe apenas Um Mundo, e este é Isto. Aquilo que concebemos como o mundo sensível, o mundo finito do tempo e do espaço, não é senão uma conglomeração de véus que escondem o Mundo Real. Estes véus são os nossos sentidos: os nossos olhos são os véus sobre a Verdadeira Vista, os nossos ouvidos são os véus sobre a Verdadeira Audição, e é assim também com os outros sentidos. Para nos tornarmos cientes da existência do Mundo Real, os véus dos sentidos devem ser removidos… e o que subsiste então do homem? Subsiste um ténue cintilar que lhe surge como a lucidez da sua consciência… Existe uma continuidade perfeita entre este cintilar e a Grande Luz do Mundo Infinito e, assim que esta continuidade for apreendida, a nossa consciência pode (através da oração) emanar e estender-se como que até ao Infinito e tornar-se Una com Ele, de modo que o homem passa a compreender que o Infinito Apenas é, e que ele, o humanamente consciente, existe apenas como um véu. Compreendido este estado, todas as Luzes da Vida Infinita podem penetrar a alma do sufi, e podem fazê-lo participar na Vida Divina, de forma que ele tem direito de exclamar: “Eu sou Alá”. A invocação do nome Allâh é como que um intermediário que avança e recua entre o cintilar da consciência e os esplendores ofuscantes do Infinito, afirmando a continuidade entre eles e tecendo-os cada vez mais próximos, em comunicação, até que são “unidos em identidade”.

 - Al-‘Alawî ( Sufismo (Sabedoria Perene )


terça-feira, 1 de outubro de 2013

Aniquilação

" Os que não morrerem em vida serão aniquilados quando morrerem". 
Esta máxima de Jacob Boehme, proponho: Os que não morrerem para as prisões-ilusões desta vida e não Nascerem Espiritual e Iniciaticamente para a Vida Eterna serão reciclados após a morte. O fato é que, ou nos transmutamos voluntariamente e conscientemente ou, depois da morte, passaremos por um tipo de reciclagem cósmica, na qual o que puder ser reutilizado será posteriormente reintroduzido no ciclo eterno e ilimitado de movimento permanente e de transformação assintótica. De qualquer forma, nada é perdido ou criado no incriado Universo. O Universo é auto-sustentado por duas Leis básicas: movimento e transformação. E esse movimento e essa transformação, interior no caso homem, deverá se dar como explica Boehme no seu Mysterium Magnum, escrito um ano antes de sua Grande Iniciação: O único e verdadeiro caminho através do qual Deus pode ser percebido em Sua Palavra, Essência e Vontade é quando o homem alcança um estado de unidade consigo mesmo, e quando – não só em sua imaginação, mas em sua vontade – possa deixar tudo o que é eu pessoal ou o que pertença ao eu: dinheiro e bens, pai e mãe, irmão e irmã, esposa e filhos, corpo e vida, ou seja, quando o seu próprio eu se transforma em um nada. Ele deve entregar tudo e se tornar mais pobre do que um pássaro no ar que possui um ninho. O homem não deve sequer ter um ninho para o seu coração neste mundo. Não que se deva fugir de casa, abandonar esposa, filhos ou parentes, cometer suicídio ou jogar fora as propriedades a fim de não estar corporalmente presente. Deve-se, sim, matar e anular a vontade própria, aquela que clama por todas essas coisas como sua possessão. O homem deve entregar tudo isso ao seu Criador e dizer com todo consentimento de seu Coração: ‘Senhor, tudo é Teu’! Sou indigno de governar tudo isso, mas como Tu me colocaste aqui, devo cumprir meu dever entregando minha vontade a Ti, de forma total e completa. Age através de mim da forma que quiseres, a fim de que a Tua Vontade seja feita em todas as coisas e em tudo que eu seja chamado a fazer para o benefício de meus irmãos, a quem sirvo segundo o Teu mandamento.' Aquele que penetra neste estado de resignação suprema entra em união divina com o Cristo, a fim de ver ao Próprio Deus. Ele fala com Deus e Deus fala com ele; ele sabe qual é a Palavra [Verbum Dimissum et Inenarrabili]. Enfim, como escreveu Helena Petrovna Blavatsky em sua Doutrina Secreta, a Luz Astral é a Alma Universal, a Matriz do Universo, o 'Mysterium Magnum' do qual nasce tudo o que existe, seja por separação, seja por diferenciação.


Fonte: Rodolfo Domenico Pizzinga