sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dois mundos, uma unidade


DOIS MUNDOS, UMA UNIDADE, UMA REALIDADE

O mundo material, objetivo e racional é regido pela lei da causalidade.
Nada acontece sem uma causa correspondente, nenhum efeito é maior do que a sua causa.
Tudo que está sujeito à lei da causalidade acontece no tempo e no espaço, que não são objetos, mais sim modos ou atributos de percepção sensitiva e concepção intelectual. A ciência, a técnica e a arte, isto é, a cultura e a civilização assentam alicerces na lei da causalidade, que é o objeto específico da inteligência. Existem, entretanto, fenômenos de causas desconhecidas e que o homem comum chama de casualidade.
Este é o mundo dos sentidos e do intelecto, o mundo do ego. O mundo que não pode ser explicado pela lei da causalidade nem pelos sentidos e pelo intelecto é o mundo dos instintos, da emoção, do sentimento, o reino do eterno, do infinito, do absoluto.
Este é o mundo do Ser. O ser humano interage com esses dois mundos.
A distinção entre dois mundos, segundo Nietzsche apareceu claramente com Sócrates, pela oposição entre essencial e aparente, verdadeiro e falso, inteligível e sensível, fazendo da vida aquilo que deve ser julgado, medido, limitado; foi criado o "homem teórico", racional e lógico, separando o pensamento e a vida.
"Enquanto em todos os homens produtivos o instinto é uma força afirmativa e criadora, e a consciência uma força crítica e negativa, em Sócrates o instinto torna-se crítico e a consciência criadora".
Todos os fenômenos conhecidos e desconhecidos estão interrelacionados. Não há dois mundos separados, estanques. Não há um "vale de lágrimas" aqui no mundo do ego e um céu ou inferno em outro mundo, em outra dimensão. O ser humano move-se dentro de um todo e cabe a cada um, individualmente, tomar consciência dessa realidade.
Quando toda a nossa motivação e ação, toda a nossa energia e interesses estão canalizados para o mundo do ego somos incapazes de perceber o Todo. Ao nos afastarmos do mundo sensível e desenvolvermos apenas o intelecto, nós nos separamos da Unidade. Ao desenvolvermos somente a capacidade intelectual nós nos afastamos da nossa essência, nós nos incapacitamos, nos
aleijamos, desenvolvemos apenas uma parte, deixamos de viver pelas leis da natureza, do nosso mundo interior. O "homem teórico" de que nos fala Nietzsche afastou-se de sua humanidade e, pela inteligência, criou Deus.
O homem criou Deus e, agora, busca desenfreadamente, provas da sua existência. Não é fantástico? Tudo é extremamente simples, mas o homem quer uma explicação lógica, racional, científica! Desviou-se, separou-se, pela força da vontade, do seu mundo interior que faz a ligação com o Todo e agora, busca, freneticamente, respostas racionais para a sua existência.
Mas o seu Deus racional, objetivo não existe porque é uma criação sua, e, portanto, uma ilusão.
O homem primitivo vive instintivamente; o homem intelectual vive racionalmente; o homem superior promove a paz entre os instintos, transformados em sentimento, e o intelecto e, assim, pelo sentimento interage com o Todo, o eterno e o infinito.

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