sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

o Louco


Perguntais-me como me tornei louco. Aconteceu assim:

Um dia, muito tempo antes de muitos deuses terem nascido, despertei de um sono profundo e notei que todas as minhas máscaras tinham sido roubadas – as sete máscaras que eu havia confeccionado e usado em sete vidas – e corri sem máscara pelas ruas cheias de gente gritando: “Ladrões, ladrões, malditos ladrões!”

Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para casa, com medo de mim.

E quando cheguei à praça do mercado, um garoto trepado no telhado de uma casa gritou: “É um louco!” Olhei para cima, para vê-lo. O sol beijou pela primeira vez minha face nua.

Pela primeira vez, o sol beijava minha face nua, e minha alma inflamou-se de amor pelo sol, e não desejei mais minhas máscaras. E, como num transe, gritei: “Benditos, benditos os ladrões que roubaram minhas máscaras!”

Assim me tornei louco.

E encontrei tanto liberdade como segurança em minha loucura: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós.
( Khalil Gibran)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Concebido sem pecado original


Todos os livros e doutrinas religiosas podem ser analisados e interpretados no sentido psicologico e espiritual (esotérico).
Não podemos analisá-los apenas sob a perspectiva do ego cuja consciência está presa aos seus próprios interesses.
A concepção divina e a virgindade da mãe devem ser analisados a partir de uma perspectiva cosmogonica e espiritual.
Deve-se observar ainda que de acordo com esta análise, a virgindade da mãe não é lesada nem pela concepção, nem pelo parto.
Quem é o Cristo, o Filho, o Ungido de Deus? Quem são os Mensageiros Divinos? E os Messias (Avatares em outra religião)?
Todos estes nomes podem ser resumidos em "Cristo, o Filho de Deus".
Todos os Avatares, Messias, Mensageiros Divinos, Cristos e "Iluminados" foram filhos de uma mulher e de um varão, concebidos e nascidos como qualquer outro humano.
O homem, nessa perspectiva, desde a concepção tem um corpo físico e um corpo imaterial , com toda as suas funções potencialmente disponíveis. A energia (vamos chamar assim a parte "imaterial") e o corpo formam uma unidade interdependente. A personalidade em suas motivações e ações divide-se em id, ego ("eu") e superego (Freud).
No id estão as forças profundas, naturais e involuntárias que governam a vida; o "eu" é o centro da consciência e o superego a sua consciência moral construída pela interação com o meio e a educação. No id localiza-se, também, a "centelha divina" segundo diversas escolas esotericas, a parcela da "inteligência cósmica", o "Cristo", energia adormecida no inconsciente humano que espera a oportunidade, a hora e as condições favoráveis para manifestar-se.
Revela-se como uma ânsia de liberdade que vai crescendo e sobre o qual o ego (superego) não tem poderes porque é instintiva, e foge portanto, ao seu controle. Neste processo longo e doloroso o ego será destruído e nascerá um novo ser humano dominado pelo "espírito", o "Cristo", o "Mestre", o "homem Iluminado".
Ele nasce da "alma humana", concebido pelo "poder Divino", por ser uma centelha" Dele", cuja virgindade não é lesada nem pela concepção, nem pelo parto.
O "Cristo nascido da alma" uniu os opostos, positivo e negativo, masculino e feminino, consciente e inconsciente, racional e intuitivo, o céu e a terra.
Ele é "filho de Deus" - Complexio Oppositorum.
Este é o "nascimento imaculado" de um "Mestre", de um "Avatar", de um "Messias", de um "Iluminado", do "Cristo", um " Filho de Deus ".

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O Meu Olhar


O Meu Olhar

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de, vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender ...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar ...
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar...


Alberto Caeiro