terça-feira, 24 de maio de 2011

o Mito do amor romântico


No mito romântico, o amor é a força misteriosa que surge do nada e nos traz felicidade. A incrível porcentagem de 95% de todas as referências ao amor feitas pela mídia moderna baseia-se na promessa de relacionamentos românticos e nos problemas deles derivados. Na visão de Hollywood, os apaixonados são jovens, lindos e predestinados uns aos outros, apesar de precisarem passar por muitas adversidades antes de conseguirem a feliz realização de seu amor.

Origem
A obsessão moderna pelo amor romântico pode nos levar a crer que as coisas essenciais da vida sempre foram um beijo, um suspiro e um toque da “velha magia chamada amor”. Mas o mundo nem sempre reverenciou dois amantes dessa maneira cinematográfica. O amor romântico tem sido a exceção, e não a regra. Na maioria das sociedades pré-modernas, os casamentos foram “arranjados” por motivos práticos e políticos. Foram os cavaleiros e trovadores da Idade Média que inventaram o código medieval de conduta para namorados e idealizaram o romance, mas exclusivamente para a elite. O romance para as grandes massas surgiu com o nascimento do capitalismo e do individualismo, alcançando um nível febril entre consumidores modernos de novelas e revistas que versam sobre o amor falso e verdadeiro, cheias de receitas rápidas para a intimidade e conselhos para os perdidamente apaixonados. A necessidade de novidades relacionadas ao reino de Afrodite é constante e insaciável. Pesquisas de opinião, questionários e indagações intermináveis sobre nossos hábitos eróticos estimulam a crença questionável que temos de estar aprendendo novas técnicas e progredindo no jogo do amor.

Impacto
Nossa fixação míope por romance e sexo encoraja uma teoria de "atração fatal", que nos transforma em vítimas que "se apaixonam" e “se desapaixonam” em razão de química ou que não conseguem se apaixonar em virtude de má sorte, abuso sofrido na infância ou famílias desestruturadas. Isso estimula a crença vã de que um relâmpago erótico vai nos atingir diretamente vindo dos céus e, espontaneamente, enriquecer e dar sentido às nossas vidas.

Apesar do profundamente enraizado desejo ardente por romance, quase toda a nossa energia é devotada no sentido de conseguir sucesso, prestígio, dinheiro e poder, e quase nenhuma no de aprender a arte de amar. Quando limitamos nossa busca por amor a uma ligação de somente duas pessoas negligenciamos o âmbito maior no qual precisamos praticar o amor – a família, a vizinhança, o meio-ambiente, a natureza, a comunidade de seres não-humanos sensíveis que incluem pássaros e feras.

O erro das teorias modernas sobre o amor é se dedicar exclusivamente a dois seres individuais solitários que se unem para formar uma ilha em um mar hostil povoado de outros seres anônimos e de vizinhos desconhecidos. A maioria das teorias pré-modernas considera o amor como um elixir que gradualmente dissolve as fronteiras que erigimos entre nosso próprio ser e os outros, progressivamente impulsionando o ego para além do individualismo e do santuário da intimidade, na direção de uma comunidade cada vez mais inclusiva.

A conseqüência mais séria gerada por nossas preocupações com o jogo de achar nossos pares é nos mantermos sempre voltados especificamente para a pergunta errada. Se eu perguntar "como posso encontrar meu amor verdadeiro" antes de perguntar "como posso me tornar uma pessoa carinhosa?" não vou conseguir adquirir as qualificações necessárias para me tornar um ser humano carinhoso – capacidade de ouvir, de ter empatia, de sentir compaixão, de cuidar do próximo, de ter comprometimento, etc. O amor é uma arte que precisa ser desenvolvida e praticada por toda a vida.

(Extraído de um texto do Filósofo Sam Keen em www.yubliss.com )

Um comentário:

  1. Meu amigo querido, voce foi certeiro...muito bom ler isso...

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