terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Os relacionamentos


À medida que o modo egoico da consciência e todas as estruturas sociais, políticas e económicas que o criaram entram na fase final da sua decadência, os relacionamentos entre homens e mulheres reflectem o profundo estado de crise em que a Humanidade se encontra. E como os seres humanos se têm vindo a identificar cada vez mais com as suas mentes, muitos dos relacionamentos não se enraízam no Ser e por isso transformam-se numa fonte de sofrimento e são dominados por problemas e conflitos.
Há actualmente milhões de pessoas que vivem sozinhas ou são pais solteiros, incapazes de estabelecerem um relacionamento íntimo ou não querendo repetir o drama de relacionamentos anteriores. Outros andam de relacionamento em relacionamento, passando de um ciclo de prazer e dor para outro, à procura da realização pessoal, que lhes escapa sempre, através de uma união com a energia de polaridade oposta. Outros ainda chegam a um compromisso e continuam juntos num relacionamento disfuncional em que prevalece a negatividade, por causa dos filhos ou da segurança, por força do hábito, por medo de ficarem sós, ou por qualquer outra razão mutuamente "benéfica", ou mesmo devido a uma dependência inconsciente da excitação do drama e do sofrimento emocionais.
Não obstante, qualquer crise representa não apenas um perigo, mas também uma oportunidade. Se os relacionamentos incutem energia à mente egoica, fortalecem os seus padrões e activam um corpo de dor, como acontece nessa altura, porquê não aceitar esse facto em vez de tentar escapar-lhe? Porquê não cooperar com ele em vez de evitar os relacionamentos e continuar a perseguir o fantasma de um parceiro ideal como resposta aos seus problemas e como um meio de se sentir realizado? A oportunidade que se esconde dentro de cada crise não se manifesta antes de todos os factos de uma dada situação serem reconhecidos e plenamente aceites. Enquanto você os recusar, enquanto lhes tentar escapar ou desejar que as coisas sejam diferentes, a janela da oportunidade não se abrirá e você ficará prisioneiro dessa situação, que continuará a ser a mesma ou se deteriorará ainda mais.
O reconhecimento e a aceitação dos factos trazem consigo um certo grau de libertação dos próprios factos. Por exemplo, quando você sabe que há desarmonia e se agarra a esse "saber", através desse seu saber surge um factor novo que poderá vir a combater a desarmonia. Quando você sabe que não está em paz, esse seu saber cria um espaço de quietude que rodeia a sua ausência de paz num abraço de amor e ternura e depois a transmuta em paz. No que diz respeito à transformação interior, não há nada que você possa fazer. Você não se pode transformar a si próprio, e certamente não pode transformar o seu parceiro ou qualquer outra pessoa. Tudo o que você pode fazer é criar um espaço para que a transformação aconteça, para que a graça e o amor entrem na sua vida.
Portanto, alegre-se sempre que o seu relacionamento não funcionar, sempre que ele revele a "loucura" que há em si e no seu parceiro. O que era inconsciente estará então a ser trazido para a luz. É uma oportunidade de "salvação". Em cada momento, agarre-se àquilo que sabe desse momento, particularmente ao que sabe do seu estado interior. Se houver cólera, reconheça que há cólera. Se houver ciúme, uma atitude defensiva, um impulso para discutir, uma necessidade de ter razão, uma criança interior a exigir amor e atenção, ou um sofrimento emocional de qualquer espécie – seja o que for, reconheça a realidade desse momento e agarre esse saber. O relacionamento torna-se então o seu sadhana, o seu exercício espiritual. Se observar um comportamento inconsciente no seu parceiro, envolva-o no amor do seu saber, para que você não reaja a esse comportamento. A inconsciência e o saber não podem coexistir por muito tempo – mesmo se o saber estiver apenas na outra pessoa e não naquela que está a ter um comportamento inconsciente. A forma de energia que reside por trás da hostilidade e da agressividade acha absolutamente intolerável a presença do amor. Se você reagir, seja de que forma for, à inconsciência do seu parceiro, você próprio se torna inconsciente. Mas se se lembrar então de reconhecer a sua reacção, nada estará perdido.


( Eckhart Tolle )

* Tolle bem claramente destrincha o porque as pessoas não dão certo em seus relacionamentos. E isso é crônico na atualidade. O mundo do Ego, onde a inconsciencia permeia relacionamentos, é praticamente impossivel tal convivencia ultrapassar uns 2 anos. Ao invés das pessoas buscarem as razões dentro delas mesmas, elas continuam inconscientemente tentando encontrar sua 'metade", ou reclamando dos fracassos anteriores ,e repetirão os mesmos padrões inconscientes de ação e reação . Enquanto o Ego fortalecido busca uma outra metade, encontrará outro Ego fortalecido, porque as pessoas conscientes - as raras que sabem o que é o amor- dificilmente permitirão relacionar-se com outras que se recusam despertar,e caso ocorra, rapidamente distanciam-se porque a "sintonia" é amplamente diferente- essa não está no mundo do Ego.


- leia tambem:  "amor é para poucos" , o complemento  abaixo

2 comentários:

  1. Pense num negócio complexo: relacionamento. Realmente, sem o necessário autoconhecimento e maturidade espiritual a pessoa viverá eternamente "em busca de", e mesmo que encontre, não será capaz de reconhecer aquilo que sempre buscou. Além disso, talvez ele busque algo que não existe, e se existe ele é incapaz de vê-lo, mesmo que esteja diante de seus olhos. Tudo isso devido à sua ignorância espiritual! Muitos falam em amor à humanidade, mas são incapazes de amar a(s) pessoa(s) que com ela convivem. Fraterabraços Amigo!

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  2. Perfeito seu comentário, caro Alsibar! Gratidão !

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