quarta-feira, 10 de julho de 2013

Contemplação

"No Budismo, como na Vedanta e nas mais recentes formas da cristandade, a ação correta é o meio pelo qual a mente é preparada para a contemplação. Os primeiros sete estágios da Senda Óctupla são ativos, são a preparação ética para o conhecimento unitivo do Absoluto. Só os que praticam efetivamente os Quatro Atos Virtuosos, nos quais todas as outras virtudes estão incluídas — ou seja, a substituição do ódio pelo amor, a resignação, "a santa indiferença" ou falta de desejo, a obediência ao dharma ou à Natureza das Coisas — podem esperar alcançar a compreensão libertadora de que samsara e nirvana são unos, de que a alma e todas as outras coisas têm como seu princípio de vida a Luz Inteligível ou o ventre de Buda.
Uma pergunta agora, naturalmente, se apresenta: quem é chamado para essa forma mais alta de prece que é a contemplação? A resposta é simples. Todos são chamados para a contemplação, porque todos são chamados para atingir a libertação, que nada mais é senão o conhecimento que une o conhecedor ao conhecido, isto é, a Base Eterna ou Divindade. Os expoentes orientais da Filosofia Perene, provavelmente, negariam que todos fossem chamados aqui e agora; nesta vida particular, diriam eles, seria por todos os motivos impossível a determinado indivíduo alcançar mais que uma libertação parcial, tal como a sobrevivência pessoal numa espécie de "céu", do qual pode haver um acesso à total libertação ou um retorno às condições materiais que, como admitem todos os instrutores da vida espiritual, são unicamente propícias ao teste da inteligência cósmica que resulta em iluminação. No Cristianismo ortodoxo, nega-se que a alma individual possa ter mais que uma encarnação, ou que possa fazer qualquer progresso na sua existência póstuma. Se for para o Inferno, ali permanecerá. Se for para o Purgatório, simplesmente expia as más ações do passado, a fim de lhe ser possível a visão beatífica. E quando vai para o Céu, tem tanta visão beatífica quanto lhe permitiu sua conduta durante uma única e breve vida na terra, e eternamente. Concordando com esses postulados, segue-se que, se todos forem chamados para a contemplação, se-lo-ão a partir de certa posição particular na hierarquia do ser, que a natureza, a criação, o livre arbítrio, a graça e a educação conspiraram para conceder-lhes. Nas palavras de um eminente teólogo contemporâneo, Pe. Garrigou-Lagrange, "todas as almas recebem um chamado remoto para a vida mística, e se todos se empenhassem em evitar, tanto quanto possível, não apenas os pecados mortais, mas os veniais, e se fossem, cada um de acordo com sua condição, geralmente dóceis ao Espírito Santo, e se tivessem vivido bastante, chegariam um dia a adquirir a vocação próxima e eficaz para uma alta perfeição, para a chamada vida mística". Este ponto de vista de que a vida da contemplação mística é a forma adequada e moral do desenvolvimento da "vida interior" de recolhimento e devoção a Deus — é então justificado pelas seguintes considerações: primeiro, o princípio das duas vidas é o mesmo; segundo, é somente na vida de contemplação mística que a vida interior encontra a sua consumação; terceiro, sua finalidade, que é a vida eterna, é a mesma; além disso, só a vida da contemplação mística prepara imediata e perfeitamente para aquela finalidade."

- Aldous Huxley


Contemplação : o mais alto nível na espiritualidade - além da devoção, do entendimento e da meditação (as outras tres formas de libertação) 

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