sábado, 1 de agosto de 2009

Tempo e Espaço


Encontro-me em plena solidão, numa praia deserta. O mundo, os seus rostos e as suas coisas, tudo está longínquo. Os seus rumores, problemas e paixões não chegam a este silêncio imenso. Porque o céu, a planície, o mar, são infinitos, também os pensamentos se fazem infinitos. Aqui tudo é tão simples e grande que parece acabado de sair das mãos de Deus. A laboriosa cisão do dualismo, a luta entre contrários de que é feita a vida, procura pacificar-se para se desvanecer na suprema unificação de todas as coisas em Deus. Aqui existo fora do limite do espaço e do tempo, porque no céu, na planície,no mar, não tenho pontos de referência, e os dias correm iguais, sem medida. Sinto-me fora das dimensões terrestres. De nada serve caminhar, porque o deserto é sempre igual, sob o mesmo céu, diante do mesmo mar. O movimento se relaciona com o limite. No espaço e no tempo infinitos a velocidade nada modifica, anula-se no vazio. Devido a falta de um ponto de referência, não havendo ponto de partida ou de chegada, toda a velocidade é inútil. Mesmo o correr do tempo nada muda, porque espaço e tempo não faltam. Acima de todos estes infinitos - o do céu, do deserto, do mar, do tempo - o infinito de Deus os contempla, imóvel, assistindo à sua fusão no infinito. Esta é uma atmosfera diferente que respiro, um outro ambiente em que penetro, outra dimensão em que existo. Superei o limite do plano físico, a barreira da forma, da ilusão, das aparências. Sou apenas um pensamento que observa o pensamento que se encontra em tudo o que existe. Uma força me arrastou para fora das dimensões terrestres, na vibrante imutabilidade do absoluto.

(Pietro Ubaldi)

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