quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Culpa e Perdão


O ser humano já nasce culpado. Durante toda a sua vida aprende a se culpar. É culpado pelo pecado original; é culpado por não ser bonito, rico e inteligente, e é culpado porque seus filhos não são gênios nem santos. 
"A ancestral culpa humana, pela qual nos sentimos absolutamente condenados por crimes que não cometemos mas que é como se os tivéssemos cometido. Com requintes de crueldade que só a imaginação culposa será capaz. Mesmo quando somos nós mesmos as vítimas", diz Wilson Bueno.
 A ação praticada pelo homem motivada pela razão, pelo instinto ou pela emoção é um ato reflexo do seu caráter e da sua personalidade. É um ato essencialmente seu. Movido somente pelo instinto ou pela emoção o seu ato torna-se irracional, isto é, contrário à sua consciência moral. O sentimento de culpa é uma autocondenação com base nas leis draconianas da sua consciência formada pela sua educação moral. Culpado, busca o perdão.
Perdão, entretanto, não é algo que possa ser dado por um ser divino ou por qualquer outro ser humano. 
Perdão é algo que se dá a si mesmo. 
O perdão é a percepção, a compreensão íntima de que, pelas trevas da ignorância, agimos contra a Lei do Amor. 
Contra o Artigo Único, da Lei Única da Moral e da Ética: Ama o teu próximo como a ti mesmo. 
O próximo não é apenas o outro, mas o mundo que nos cerca, o planeta Terra em que vivemos. O perdão é a tomada de consciência de que o único mal que existe é a falta de amor, de união com o Todo.
A Lei Única foi desdobrada pela Religião em tantos códigos, leis, regulamentos, portarias, circulares e procedimentos que ela deixou de ser a Lei do Amor para transformar-se na Lei do Poder da Vontade dos Homens. Organizada pelas classes dominantes, classificada como revelação de Deus, foi criada a Justiça Divina. Pensamentos e palavras contrárias às "leis de Deus", rebeldia, independência e liberdade passaram a ser pecados. Pecados que geram culpa e que precisam do perdão, a ser concedido pelos "representantes" do Altíssimo. Este é o mundo do Ego. 
Nunca te arrependas de qualquer ação que tenhas cometido. "Não te acovardes diante de tuas ações! Não as repudies depois de consumadas! O remorso da consciência é indecente" afirma Nietzsche.
A vida é um eterno aprendizado e, portanto, é necessário errar. Só não erra quem não ousa, só não erra quem não luta, só não erra quem não age. Reconhecer, reparar e superar o erro é uma demonstração de altivez, é uma afirmação perante si mesmo, é uma demonstração da capacidade de vencer. 
O sábio aprende com seu erro, supera-o, e parte para novos desafios. O fraco quando age e erra se arrepende, se culpa e se acomoda.
A vida do ser humano pode ser pura, inocente e feliz baseada no amor. O inferno é criado pelo próprio homem que de gerações em gerações vai transmitindo as noções de pecado, culpa, castigo, recompensa e... de um Deus que está no céu.

Um comentário:

  1. O conceito de culpa foi incutido no inconsciente coletivo pela Igreja Católica desde a Idade Média e, com a culpa, vinha a necessidade de perdão e, com a necessidade de perdão, a necessidade de indulgência (que era bem cara!).
    O que o ser humano tem que entender é exatamente isso!
    Estamos aqui para aprender e desenvolver nossos valores morais. Temos que errar, mas não cultivar a culpa. Erramos, aprendemos e buscamos um modo de nos redimir e corrigir o erro, e tentar não errar mais naquele aspecto. Simples e complexo. O sentimento de culpa é um dos mais cruéis para conosco. Com ele vem a autopunição e a autosabotagem inconsciente que pode causar mil e uma "opções" para nos punirmos a nós mesmos.
    Consciência é a chave!

    Excelente texto!
    Abraços!

    ResponderExcluir