domingo, 5 de junho de 2011

Amor


Já refletiste sobre o que é amor? É ele essa tortura que conhecemos? Essa espécie de amor poderá ser bela no começo - quando dizemos a alguém: “amo-te” - mas depressa se deteriora, convertendo-se numa relação em que prepondera a posse, o domínio, o ódio, o ciúme, a ansiedade, o medo.
Agora, que é amor, que é ele realmente, e não como gostaríamos que fosse?
O que gostaríamos que fosse o amor é uma mera idéia, um conceito. Devemos começar com o que é, e não com o que deveria ser. Devemos começar com o fato, e não com as opiniões e conclusões alheias.
Que é realmente o nosso amor? Nele há prazer, dor, ansiedade, ciúme, apego, ânsia de posse, de domínio, e o medo de perdermos o que possuímos. Há o amor existente nas relações entre duas pessoas, e há amor a uma idéia, uma fórmula, uma utopia, ou a Deus. O amor que temos é o conhecido, com todos os seus sofrimentos e sua confusão; nele, há a tortura do ciúme, os horrores e penas da violência, o prazer sexual, a possessividade, o ciumes, a desconfiança.
É isso que conhecemos.
Devemos perguntar: É o amor prazer, desejo, pensamento? Pode o amor ser continuamente cultivado? Sem o amor, o sentimento de compaixão, sua chama, inteligência, tem a vida muito pouco significado.
Você pode inventar um propósito para a vida, a perfeição, conhecer tudo sobre a profissão, mas sem a beleza fundamental do amor, fica a vida sem sentido. Para a maioria das pessoas, amor é posse. Mas, havendo ciúme, inveja, existirá também crueldade, ódio. O amor só existe e cresce na ausência do ódio, da inveja, da ambição, da possessividade. Sem amor, a vida é como terra estéril, árida, dura, brutal. Porém, no momento em que existe afeição, ela é como a terra que floresce com água, com chuva, com beleza.
Uma de nossas dificuldades é que associamos amor com prazer, com sexo. Amor, para a maioria de nós, significa ciúme, ansiedade, possessividade, apego. A isso chamamos amor. Mas o amor é apego? É o amor prazer? O amor é desejo? É o amor o oposto do ódio? Se é oposto do ódio, então não há amor. Você pode compreender isso? Quando alguém tenta se tornar corajoso, esta coragem é nascida do medo. Portanto, o amor não pode conter o seu oposto. O amor existe onde não há ciúme, agressividade, ódio. Todos nós possuímos capacidade para um amor profundo e abrangente, porém, pelo conflito e pelas falsas relações, pela sensação e pelo hábito, destruímos sua beleza. Não podemos manter a chama artificialmente acesa, mas podemos despertar a inteligência, o amor, pelo constante discernimento das múltiplas ilusões e limitações que presentemente dominam a nossa mente-coração, todo o nosso ser.
O amor não é sentimentalidade, não é emocionalismo, nem devoção. É um “estado de ser” lúcido, são, racional, incorrupto, do qual procede a ação total, a única que pode dar a verdadeira solução a todos os nossos problemas.Se ficardes vigilante, vereis o papel importante que o pensamento representa na vida.
O pensamento tem, naturalmente, seu devido lugar, mas não está em nenhum aspecto relacionado com o amor. O amor é um estado de ser em que não existe pensamento; a própria definição do amor é um processo do pensamento, e assim, não é amor.
Será que realmente conhecemos aquele “estado de ser” extraordinariamente vivo e lúcido, que é o amor ?
A maioria de nós tem muito pouco amor no coração. Por não termos amor, encontramos em geral um meio de aliviar-nos, seguindo uma certa via de “autopreenchimento”, que pode ser sexual, sentimental, apaixonante, intelectual, ou de ordem neurótica; de maneira que nossos problemas crescem e se tornam mais e mais agudos.
O amor não é coisa da mente, e não se pode pensar no amor. O amor só pode existir quando ausente o pensamento do “eu”, e o libertar-nos do “eu” só se consegue pelo autoconhecimento.
Vereis, então, que o amor nada tem que ver com os sentidos, e que ele não é um meio de preenchimento. O amor só pode existir depois de extinta a atividade do “eu”. Vós, porém, chamais essa atividade do “eu” positiva;mas a mesma leva à destruição, à separação, à aflição, à confusão, E, todavia, todos nós falamos de cooperação, de fraternidade, quando basicamente, o que desejamos é ficar apegados às nossas atividades egocêntricas.

Você ama alguém? Este amor contém ciúme posse, dominação, apego?
Então não é amor! É apenas uma forma de prazer, entretenimento, preenchimento!
Quando há sofrimento, não pode haver amor e, portanto, nenhuma inteligência. O amor tem sua própria inteligência.
Só o amor pode transformar o mundo. Sistema algum pode trazer a paz e a felicidade. O amor não é um ideal; ele surge onde existe a compaixão de todos para com todos. Esse modo de ser se apresenta com a riqueza da compreensão.



(J. Krishnamurti)

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